quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Aqui manda el pueblo y el gobierno obedece

Pois bem , se aproxima a hora de deixar o México. Minha última etapa nessa terra é a região de Chiapas, onde se concentram os zapatistas. A frase que intitula essa postagem é vista em placas colocadas na entrada de todos aqueles municípios que se declaram autônomos e seguidores do movimento. A primeira vez que vi esse aviso, sobre a área zapatista, foi numa pequeníssima comunidade que fica entre a Cidade de Ocosingo e as ruínas de Toniná. Arrepiei inteiro. Lindo.

Fui atrás de informação sobre os melhores “caracóis” a serem visitados. Me recomendaram Morelia – quem recomendou foi a avó da Amanda, de quem falo mais tarde –, mas com a ressalva de que talvez não me recebessem. Outros sugeriram que eu fosse primeiro a Oventik, que é um grande centro zapatista e conhecido por ser o "centro zapatista para o mundo" e lugar em que celebram sempre o ano novo. Pois fui barrado na porta...Não tinha meu passaporte comigo, só as carteiras de identidade e jornalista, o que não foi suficiente para os encapuzados me deixarem passar. Como amanhã sigo viagem, esse contato fica para uma próxima. Na verdade, esse caracol em particular me desapontou um pouco. Quando busquei informações sobre ele, me disseram que era mais fácil eu ir com agências de turismo. Estranho! O capitalismo é uma merda mesmo. Mas isso não tira o brilhantismo da luta. Viva Zapata e essa gente que desde 1994 coloca pedras no sapato governista mexicano. Sua luta é simplesmete por seus direitos que são vergonhosamente esquecidos. Lutam,também, para que aquela velha máxima de que "a terra deve ser de quem trabalha nela" vigore.
Aliás, quando se chega ao estado de Chiapas não restam muitas dúvidas de que se trata do mais pobre do México. As viagens pelas estradinhas que cortam ou passam perto das localidades desvelam verdadeiras favelas e gente pobre, muito pobre. Estima-se que só metade dos indígenas chiapenses tenham acesso à água potável em casa e menos do que isso tenha saneamento básico. Educação? Sãoospiores do país. Ou seja, o quadro é feio mesmo.

Toniná
Logo depois que o ônibus iniciou as 12 horas de viagem entre Oaxaca e San Cristobal de Las Casas, de onde escrevo, uma guria cutucou o meu ombro. “Vas a San Cristobal?”. “Si”. “De onde eres?”. “Brasil”. "No creo". E a essa introdução - que se repete várias e várias vezes ao longo da viagem - seguem-se pelo menos oito horas de bom papo. Amanda tem 20 anos, estuda fisioterapia e é um doce de pessoa. Não gosta muito dos zapatistas, que tomaram as terras de seu pai. “Pero también no me desgustan”, arremata. Bueno, conheci tudo e mais um pouco sobre a cidade de San Cristobal pela guria, que um dia depois se ofereceu a ir comigo até Toniná para apresentar as ruínas.
O dia chuvoso não atrapalhou. Ela estava em Altamirano na casa da avó e foi me encontrar em Ocosingo, para onde me dirigi de ônibus. Dali, pegamos um colectivo hasta Toniná. As ruínas desse antigo reduto maia não são nem de perto as mais bonitas que vi, mas tem um charme. Principalmente em razão da sua forma construtiva (sempre morro acima) e das vistas que se podem ser apreciadas do alto dos templos. Toniná foi uma cidade cujos governantes tinham um grande fascínio bélico (principalmente os últimos). Isso está traduzido nos vários painéis que retratam os prisioneiros amarrados. Foi a cidade que derrotou por exemplo, a vizinha Palenque, além de vários outras. E provavelmente a última a “desaparecer” misteriosamente, como sempre aconteceu com esses povos.

San Cristobal
San Cristobal tem lá seu charme. Ruas estreitas, casas com estilo colonial para todos os lados e um frio que convida ao chocolate quente e à coberta. Caminhar por suas ruas é uma boa diversão, ainda mais que estamos na baixa temporada e não há tanta gente assim. Vale a pena, também, o Museu do Âmbar, produto que é uma verdadeira relíquia para os locais. Sim, âmbar com mosquitinho e tudo, como no filme Parque dos Dinossauros. Aliás, com insetos, as jóias ou enfeites custam bem mais do que sem eles. Existem sete cidades da região que são famosas por extraírem de minas essa seiva petrificada. Os trabalhadores exgtraem por mês, somente 1 quilo do produto. O grama vale de acordo coma qualidade da peça. A guia do museu disse que muitas famílias vivem pelo menos quatro meses do ano da extração do âmbar, ainda que ela seja extremamente perigosa. No resto do tempo, se dedicam à agricultura.
Outro lugar que vale a pena visitar é o Centro de Estudos da Medicina Maya, mantido por um grupo de pesquisadores interessados em assegurar a preservação do uso de medicinas naturais e ritualísticas dos povos indígenas. O lugar está longe de ser impressionante em termos de estrutura, mas para conhecimentos sobre hábitos regionais é parada obrigatória. E o vídeo do parto de um indiozinho deveria ser antecedido por um alerta para quem tem estômago fraco.

O verme
Pouco depois de escrever a postagem que antecede a esta sai com três israelenses, três suecas e uma australiana. Fomos para um bar. Como a porra do gusano está em falta no mercado porque não chovee não podia ir embora da região sem devorar um, trapaceei e acertei com o garçom que o verme do mezcal deveria cair no meu copo. Não teve dúvida. Lá veio o bicho e, claro, o devorei. Digamos que é como mezcal em forma de verme e com um pouquinho de pegamento.
Buenas, mas não foi se de verme que eu vivi em Oaxaca, a terra da boa comida mexicana. Comi o famoso mole negro, memelitas, chicharrones , quesadillas, tlayudas...enfim, um espetáculo.

Mas é isso queridos. Não sei se em Cuba terei acesso tão fácil ao computador e por isso, se acaso eu não escrever por um bom tempo, fica um forte abraço cheio de saudade.
Hasta siempre!