domingo, 30 de novembro de 2008

O comeco do fim (título alternativo: Só faltaram as galinhas)

Hola,

Pois bem, hoje, domingao, resolvi botar o peh na estrada e ir conhecer a antiga cidadela maia de Iximché. E amigos, seu eu me queixara da tranquilidade dos chicken buses, hoje nao posso dizer o mesmo. Fui castiga. Acordei às 5h30 da matina e fui pra parada de onibus. Mais lotado impossivel. O cobrador ficou pendurado na porta. E para passar recolhendo o dinheiro, só com movimentos circenses pendurado no puta-merda. Ou seuja, só falataram as galinhas no onibus.

Buenas, peguei a buzanga e fui para Los Encuentros, lugar que recebe esse nome por ser a juncao de duas principais rodovias da Guatemala. E só por isso mesmo. Pq é um lugar desolador. Ali, os onibus cruzam constantemente e é normal fazer baldeacao para ir em direcao contraria. Foi o que eu tive de fazer. Peguei um outro onibus, tbem abarrotado e me mandei. Para vcs terem um aideia, os onibus tem bancos para duas pessoas cada. mas vai tres. Ai, meu, se um pára no corredor, tranca tudo. É um pó dos infernos a estrada. mas valeu, foi divertido pacas.

Meu destino era Tecpán. as ruínas ficam pertinho. O destino ficou meio contramao no meu roteiro, mas as ruínas de Iximché, apesar de nao serem das mais emocionantes, tem um valor histórico: foi onde a história do povo maia comecou a ir pro saco. É uma das mais recentes cidades maias. Foi construída por volta de 1470.

Foi no final de 1523 que Pedro Alvarado iniciou sua marcha do México em direcao à Guatemala. Há dados históricos, que nao lembro de cabeca, sobre o número de soldados que o acompanharam. Buenas, chegaram por estas terras, na regiao de Chichicastenango no ano seguinte. Antes, passaram pela regiao Qiuché, onde iniciaram a guerra contra a tribo que tiha esse nome. Quando so índios Quiché viram os espanhóis chegando, mandaram um representante até Iximché, habitadada pelo Kakchiquels, seu antigos inimigos,propondo uma alianca contra os invasores. Mas os bestas nao mandaram resposta. deram uma banana pra outra tribo. Naos ó fizeram isso, como receberam os espanhóis de bracos abertos. Há uma carta de Alvarado que menciona que foram recebdiso de uma maneira tao gentil que pareciam estar "llegando a la casa de nuestros padres". bastou um ano para que a ficha do líder maia caísse. Percebeu que o furo era mais embaixo. Mas aí já era tarde. Combateram os espanhóis por cinco anos, mas foram massacrados. Isso é que dá ser pelego...

O que restou sa cidade sao basicamente algumas paredes, que dao a nocao de como ela estava estruturada e funcionava. É interessante, sem dúvidas. Amanha devo ir a Santa cruz del Quiché, onde vivia a tribo Quiché. E depois devo ir a Nebaj, uma pequena cidadezinha que foi massacrada na guerra civil. Depois sigo para Coban. Tô vendo um programa de índio - literalmente - para fazer por lá. Estao com uma atividade com as comunidades que moram no meio da floresta. Sao dois dias de caminhada pela mata, dá para dormir na tribo, banho é no rio, aquelas coisas. Estoutentando agilizar, pq tem de marcar com antecedencia. mas achoque vai ser bacana. depois? Rumo a Tikal (ou melhor, El Remate,uma cidadezinha perto). E aí, México. Como sou meio confuso, nao consigo definir o melhor roteiro. Em principio, tenho de estar dia 28 de dezembro na cidade do México, para entrevistar a banda Transmetal...mas sei lá, de repente tento marcar para outro dia.

Mais uma curiosidade: se existisse um ranking mundial de mijar na rua, os guatemaltecos o encabecariam. É impressionante o índice! Outra: quando o onibus quer ultrapassar, na estradam nao ha o que faca o motorista mudar de ideia. E olha que ele fala no celular, com o cobrador, troca o cd no rádio...Se é uma curva, o cobrador se pendura pra fora do ônibus para consegui espiar melhor. É a tecologia para seguranca no transito mais legal que já vi.

Beijos e abracos,
Gustavitcho

sábado, 29 de novembro de 2008

Panajachel, a cidade para quem esta voltando de Woodstock a pé

Buenas amigos,

acho que vcs já devem estar cansados dos relatos, mas cá estou eu para preservar a memória dos gloriosos - pelo menos para mim - dias de América Latina. Pois bem, hoje cheguei a Panajachel. Viagem curta, bestinha, só uma meia hora de barco. Pana, como é apelidada a cidade, atraiu uma leva de gente paz e amor nos anos 70. E ainda mantém uma atmosfera bicho-grilo, com aquele povo que faz artesanto (sem durepox, diga-se), umas mulherada bem cabeluda e de saiao...e muita oferta de maconha pelas ruas. Chega, já dá para vislumbrar o quadro.

Buenas, confesso que apesar de ter sido uma experiência ótima a de estar coma família, em termos estomacais estou erguedo as maos pro céu por ter deixado San Pedro la Laguna para trás. Sério, nao dava mais. Meu café da manha hoje foi pao com feijao e ovo frito. Depois disso, nao precisa comer mais nada.

As aulas acabaram temporariamente, Estou pensando sobre onde prosseguir os estudos. Creio que vai ser na cidade de México, lá para o final de dezembro ou início de janeiro. Ontem minha professora marcou a aula para a parte da tarde pq tinha uma reuniao do sindicato. E as noticias foram boas. Aqui ha dois grupos de professores. Os p"resupuestados", ou seja, que estao na folha de pagamento do governo, e os contratados, que nao tem estabilidade (sao uns 20 mil). Esses que nao sao "oficializados" recebem salarios soh durante os 10 meses letivos. Nos outros dois, ficam procurando trabalho temporario. Porem, os recursos para os alários de boa parte dessa gente sao enviados por noruegueses. E descobriu-se que os nordicos estavam mandando a grana para 12 e nao 10 meses. Diante disso, agora o governo vai comecar a apagar tambem os contratados todo o ano.

Outra noticia que corre eh a de que o sindicato dos professores - parace que o tal do Azevedo, o presidente dos sindicato é foda mesmo - fez uma investigacao sobre sonegacao fiscal no país. E denunciou 12 familias importantes. Soh o dono da Pollo Campeiro - o MacDonalds da Guatemala - deve 35 milhoes de quetzales. Agora ha a apressao para que pague. Veremos.

Hoje tá tudo meio confuso nos miolos, entao vou escrevendo o que dá na telha. Curiosidades: durante as refeicoes, uma unica mulher, normalmente a mae, serve todo mundo o tempo inteiro. Ninguem, levanta a bunda da cadeira pra nada. Quado terminam a refeicao, dizem "Muchas gracias", ao que se respode com "Bon provecho". Outra coisa: metem abacate na sopa. Sim, dizem que se parece com queijo. Entao o abrem e pimba. Tá lá o abacatao boiando (nao no preparo, soh na hora de comer). Claro que experimentei. Ta longe de ser um queijo...mas ateh que nao eh de todo ruim. O foda eh comer a carne da sopa com a mao. O negocio eh mais duro que pedra, mais borrachento que pneu e fica todo mundo ali, quase perdendo os dentes e fazendo o glorioso barulhinho de chupar o osso.

Tenho de ir. Amanha ou segunda, volto a escrever.

beijos e abracos

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Abencoado

Aleluia, irmaos!

Fui ao culto ontem. Alias, quase toda a familia. Soh a Rosa filha teve de ficar cuidando da tienda. O Fredy Jr eh o baterista da igreja. Confessou que prefere o teclado, mas por enquanto tem outro no posto. Toca bem o guri. Faz umas passagens que dariam um bom rock' n' roll. A ambicao dele, agora, eh tocar o teclado e cantar ao mesmo tempo. Atualmente eh Ismael, o pastor que ja mencionei anterioremente - um fa declarado na novela Terra Nostra e dos atores brasileiros - quem solta a voz. Alias, a primeira hora - sao duas - da cerimonia eh cantoria atras de cantoria - com direito a palmas - e alguma oracoes.

Mas enfim, vamos a tematica abordada na cerimonia: o quao bem vc esta servindo ao senhor. A leitura da noite foi sobre a construcao de templos para deus e o quao bem isso deve ser feito. Que nao se deve usar materiais frageis ou simples, como madeira ou palha, mas sim recursos nobres e valiosos, como ouro, prata e joias. O motivo do discurso ficou claro. A igreja eh novinha em folha. Na verdade eh um enorme galpao. Tudo limpinho, branquinho, carinho... E grande, considerando o tamanho da cidade. Entao, o argumento era esse: construiram um baita templo pq assim devem ser feitas as coisas para deus. Ideia que foi repetida durante uma hora. Nesse tempo, eram feitas observacoes como as necessidades de prestigiar todos os cultos (sao tres por semana) e de usar a melhor roupa disponivel para ir a igreja. E ir bem penteado, eh claro. Acho que o povo nao tava nem ai para o que o pastor estava dizendo, pq na hora em que ele perguntou quem era servidor de deus, soh uns cinco levantaram a mao...foi meio constrangedor.

Pastor a pate, a feh eh enorme. O povo realmente pede com devocao nas oracoes. Fecham os olhos com fervor, tem gente que chora...enfim, coisas que conhecemos em nossas terras tbem. O Ismael me viu no meio do publico e pediu pra eu me apresentar. Falou que eu sou um hermano brasileno e na oracao final la estava meu nome, com o pedido de que deus me acompanhe. Fiquei realmente agradecido, embora tenha achado o culto ruim. To abencoado.

Quando volvimos a la casa, cenamos. Frijoles con uevos revueltos, tortillas y cafe. Todo muy bueno, pero la mejor parte fue hacer las fotos. Los ninos estaban encantados y las sacaran - estan en mi Orkut. Despues que comimos, nos quedamo en la sala para ver la television. Un canal biblico. Habia un predicador hablando sobre sexualidade. Aqui, hacer sexo antes del matrimonio es un pecado grave. Las ninas son muy recatadas. Y los varones tambien no pudenen ser infieles despues del matromonio. El programa seguiente fue unconcierto religioso. A la verga, ya estaba cansado de hablar con Dios. Pero elles no se cansam nunca.

Hoy es mi ultimo dia en San Pedro. Tengo de caminar. Hoy he estudiado temprano porque la classe es solamente alas 15h. Mi maestra esta en una reunion del sindicato de los profesores.

Hasta luego.
Gustavo

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

o que quieres celeste, que lo custe

buenas,

aqui estoy, una vez mas. Son mis ultimos dias en San Pedro. Sabado voy a ir a Panajachel, una cuidad muy cerca de aqui y despues sigo a las ciudades de Santa Cruz Quiche y Nebaj.
Pois eh, esta chegando ao fim a segunda semana. Confesso que ta na hora de circular.

Antes, eh claro, vou ir a igreja kuakuakuakua. Eh hoje o grande dia. Duas horas de culto. Mas to curioso para ver como sao as pregacoes. A familia ficou bem satisfeita que aceitei participar. Ateh me ensinaram umas palavrinas no idioma maia, mas eh dificil pra caramba para pronuncia-las.

Buenas, ontem sairam no jornal alguma estatisticas sobre as condicoes de ensino na Guatemala. Um dos dados revela que 61% da populacao eh analfabeta. Desse total, cerca de 95% sao indios. O tempo medio de escolaridade da populacao eh de 1,3 anos. As meninas indias sao as mais excluidas das escolas. Enfim, eh de chorar e torna bastante compreensiveis algumas duvidas que eles tem.

Ontem estavamos conversando eu, a dona Rosa e a filha dela, Helena, depois do jantar. Me perguntaram sobre onde ficava o Brasil - acho que ja escrevi que pensavam que eu falasse soh ingles. Imaginavam que fossemos vizinhos dos Estados Unidos. Tambem nao entra na cabeca deles que no Brasil ha miseria. Dizem que todos os brasileiros que conhecem sao brancos como os europeus. Expliquei que isso era uma triste heranca de nossa historia. Contei sobre os escravos, sobre o fato de a grande parte da populacao brasileira ser mestica ou negra e que estes sao so principalmente desfavorecidos. Nao acredito que teham entendido bem a relacao de uma coisa com a outra e tbem nao acho que tenham acreditado muito. Mas tudo bem.

Os guatemaltecos, assim como nos, brasileiros, nao sao chegados na leitura (tambem, sem saber ler, fica dificil). Volta e meia to com um livro na mao, pela casa. Hoje disseram que ouviram falar que ler eh muito importante. Passam todos os momentos em que nao estao comendo ou no culto diante da televisao. Deve ser por isso que comprei hoje o Cem anos de solidao, em espanol, pelo equivalente a RS 7,00. Achei numa paplaria, que me indicaram como livraria. Os livros eram praticamente soh didaticos. avia dois diferentes. Um do Garcia Marquez. O outro um conto indigena, que acabei comprando para conhecer.

Na escola de espanol os professores ja tem um nivel melhor. Mas aparentemente a televisao eh o caminho tbem, apesar da critica que fazem as orientacoes politicas dos canais guatemaltecos. Hoje perguntei onde se compra jornal, pq nao consigo encontrar. Disseram que os poucos que chegam sao distribuidos pelos jornaleiros a pessoas que costumeiramente compram. Entao, nao se encontra mesmo. Alguns cafes os tem e recorro a eles.

Com o Vicente terminei a conversa que comecamos na terca. Na ocasiao ele me perguntou o que eu pensava de Chavez, Morales e Lula. Quem me conhece, sabe a resposta. Hoje inverti a pergunta. Me surpreendi. Vicente disse que achava bom que acontecessem reformas sociais, mas que nao deviam mexer com as empresas, pq elas trazem riquezas pro povo. Expliquei que o governo Chavez, por exemplo, tem em sua politica o incentivo aos pequenos e medios e como prioridade estatizar setores estrategicos. Ficou mais satisfeito. No entanto, reforcou que gostaria de ver uma fusao entre aspectos socialistas e capitalistas, e que fosse possivel surgir uma sociedade com o melhor dos dois. Fiquei meio decepcionado quando ele iniciou um discurso de que a competicao eh boa, pq ha muito spobres acomodados. Eu disse que conhecia essa ideia, mas que nao poderia concordar com ele, pq se o fizesse estaria acreditando em meritocracia, que nao funciona em sociedades nas quais as pessoas nascem em condicoes desguais. Vicente disse que San Pedro cresceu e tem melhores condicoes que as cidadezinhas vizinhas, pq foram capitalistas, individualistas. Mas que quando alguem precisa todos ajudam. Acredita que eh assim que as coisas deveriam ser. Discordo, mas respeito. Enfim, ficamos nessa papo, que foi bastante agradavel. Ele lamentou o fato de, ao contrario da Venezuela, a Guatemala nao ter petroleo ou outro produto demandado globalmente, para poder negociar usando isso.

Na aula estavamos conversando, eu e minha professora, sobre as privatizacoes. Me contou que, apesar da pouca instrucao, ha dois anos o povo daqui impediu uma empresa americana de escavar minas. Para isso, queriam deslocar casas e plantacoes de familias que vivem aqui ha seculos. Nao aceitaram, partiram para o confronto e venceram. Outra disputa recente foi pelo lago Atitlan. O governo chegou a cogitar privatiza-lo para a exploracao tursistica. Ou seja, alguns gringos iam ter direito de cobrar de quem quisesse vir para ca e aproveitar o lugar. Mais uma vez conseguiram barrar. Felizmente, sem sangue. Contei sobre o caso da agua privatizada na Bolivia. Nao conheciam. Ficaram escandalizados. E tambem felizes pela vitoria do povo de Cochabamba.

Realmente o sonho bolivariano ta longe. Por enquanto, hermanos apenas no mapa. E na miseria. Mas ha de chegar o nosso dia.

hasta luego,
Gustavo

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Maximon, o santo do mal

Buenas noches,

hoje cheguei mais tarde para escrever. Ja eh noite por aqui. As coisas estao legais na casa da familia. Estao mais abertos, conversando mais, ainda que para eles o Tsu'tujil saia com muito mais facilidade. Mas estao se esforcando para mandar bem no espanhol.

Buenas, comeco explicando o titulo da postagem de hoje. Maximon eh um deus antigo dos maias. O deus das terras altas. O nome nao eh esse, mas mudou depois que os espanhois invadiram essas terras. O lance interessante eh o seguinte. O bendito eh um santo que faz coisas do mal tbem. Ele fica o ano inteiro peregrinando entre as casas de moradores de Santiago Atitlan, cidade proxima daqui a que se chega de barco. Recebe cigarros e cachaca como oferendas. Alem de dinheiro eh claro - morri com 10 quetales para ter o direito a fazer uma foto do raparigo. Dizem que ja teve gente que levou ateh o filho para entregar para Maximon. O que pedem em troca sao coisas variadas. Desde muito dinheiro, ateh o mal para algum desafeto. Incluindo a morte. Foi dificil encontra-lo, mas depois de varias perguntas cheguei a Maximon, numa ruela da cidade. Ha uma porrada de gente que fica soh tomando conta. Eh um boneco bem colorido, feito com panos. A cara eh de madeira. Fuma charuto. Ele recebe varios outros nomes, dentre os quais Judas. Sim, o proprio traidor de cristo.

Ha varias lendas sobre a sua origem. Uma delas eh a de que anciaos das antigas tribos quiseram criar um ser para combater as bruxas e maus espiritos. Mas o maldito, apesar de ter feito o servico, aprontava. Dizem que desvirginou todas as meninhas, travestindo-se de um homem lindo. E deu para todos os homens, aparecendo como uma mulher exuberante. Por isso, resolveram prende-lo e soh o soltam de vez em quando, para limpar a podridao. Bem, como eu disse, eh uma das versoes. Realmente sao varias. Todas as historias por aqui possuem mais de uma possibilidade.

Por exemplo, a criacao do lago Atitlan, para os catolicos, foi obra da Virgem Maria - o que a sujeita tava fazendo na Guatemala, eu nao sei. Dizem que ela carregava uma pequena cumbuca com agua, a pouca agua que ainda tinha, quando tropecou e deixou o recipiente cair. E ao contrario de ficar sedenta, pobrezinha, a agua foi avancando, avancando, avancando...e pronto. Aqui ta esse puta lago.

A aula hoje foi soh de conversacao. Minha professora, que pediu por favor para eu nao colocar o nome dela em lugar nenhum pq tem medo del gobierno, eh bem escarecida e tem muita coisa para contar. Esta sendo bem interessante. Adoro quando ela fala que a Guatemala nunca foi descoberta pelos espanhois, mas invadida.

Hoje conversamos sobre tanta coisa que eh ateh dificil lembrar. Uma delas foi sobre a merenda escolar. Estava me contando que o governo fazia uma enorme propaganda sobre o envio de alimentos que permitiam as criancas terem uma almentacao nutritiva e ampliarem seu desempenho escolar. Mas na verdade, a comida era de ultima qualidade. Nao tinha nem marca e nao divulgavam a procedencia. Contou que fizeram testes com cachorros, oferecendo a merenda. E ateh eles recusaram o rango. O que aconteceu, por fim, eh que ficou uma montanha de alimentos armazendos e a propria comunidade resolveu comprar coisas aqui mesmo para garantir a merenda escolar.

Tambem falamos sobre a organiacao dos professores por aqui. Ha 90 mil sindicalizados na Guatemala e estao sempre fazendo protestos. Num deles, estavam em frente a um predio de ricos quado alguem atirou da sacada uma bomba caseira, que perfurou duas pessoas. Felizmente, sobreviveram. Contou, ainda, que a midia trabalha de forma violenta a favor do governo. Grupos de 20 mil manifestantes sao noticiados como 'alguns baderneiros'.

Alias, na Guatemala, o povo diz que o pais pertence a 17 familias. Sao os donos das grandes corporacoes, que controlam, evidentemene, governo e midia. O lider que mencionei ontem, o que foi atacado, trabalha ha anos em defea da educacao na Guatemala. Nas ultimas eleicoes, ofereceram alguns milhoes de Quetzales para que ele aceitasse concorrer para presidente. O cabra macho nao soh negou o convite, como foi para a frente do congresso e la fez um discurso e pregou um texto em que falava sobre ela. E disse que nao era homem de se vender, que jamais poderia concorrer pq isso significaria, necessariamente, abandonar uma causa pela qual esta disposto a dar a vida.

Buenas, perguntei para a minha professora se toparaia gravar as nossas conversas. Negou. Mais uma vez disse que acha perigoso. Que nas ruas, as pessoas nao falam sobre esses assuntos, mas que os tratava comigo pq via minha curiosidade. Uma pena. Seria riquissimo.

Buenas, voltemos a casa da familia em que estou. Alguns detalhes que sao pitorescos. Eles nao usam facas. Alias, praticamente nao usam talheres. Carne, eh na mao. Cortar o queijo? Use os dedos. Arroz? Aproveite a tortilla para juntar. Sobre o banheiro, que nao tem porta, mas soh uma cortina, o que eh mais engracado eh que na casa funciona um mercado. Entao, quando o cara vai tomar banho, quem ta comprando tomate fica vendo os pes de quem ta na ducha - kuakukua.

Outra coisa. Aqui, feijao se come no cafe da manha e na janta. No almoco eh outra coisa - hoje foi peixe frito e couve refogada com tomate. Sim, de manha tem um feijaozinho com ovos...Coisa boa para o desjejum. E todo o santo dia fazem as tortillas, um pao redondinho que parece pao sirio. E nao eh pouca coisa. Pelo menos umas duzentas. Alias, a casa eh um entra e sai desgracado. tem parente de tudo quanto eh lado. Isso eh bom, pq rende papo.

Ontem tava falando com o Ismael, cunhado da dona Rosa, que eh pastor. Estava me explicando que 50% da populacao eh evangelica. E isso eh por conta da historia mesmo, o povo tem aversao aos catolicos. Claro que sobrou pra mim. Na quinta vou ir no culto com a familia. Nada menos do que duas horas! Mas vamos la, o importante eh fazer amizades.

Amanha dou uma corrigida noque escrevi. Ta fechando o lugar. Beijos,
Gu

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O curso e a casa de família

Hola,

hoje acordei cedinho pq o curso de espanho comecou. Vai das 8h às 12h, com um pequeno intervalo em que comemos umas frutas e proseamos entre professores e alunos. É um professor por aluno e atualmente sao quatro alunos. Uma das alunas mor ana Inglaterra e um casal que é do Alasca. Nao sabem quase nada de espanhol. Aí vai tudo no inglês com eles. Mas tudo bem.

A aula em si é aquela coisa chata. Estamos estudando as conjugacoes verbais. O mais legal foi a segunda metade, em que ficamos falando sobre a Guatemala. A minha professora dá aulas no ensino público guatemalteco. As queixas sao as mesmas que as feitas no Brasil, inclusive sobre a diferenca na qualidade do ensino nas diferentes regioes do país.

O legal é que ela me conta as historias que a avó dela passa adiante. É uma tradicao local, mesmo, a historia oral, o que acho interessante para caramba. Por exemplo, ha uma lenda que de 50 em 50 anos o lago Atitlas sobe de nivel expressivamente. E agora ha muita gente que contrui perto dele que esta com medo.

Falou, tambem, sobre as curandeiras que existem na regiao e como trataram de uma lesao em sua coluna. Diz ela que com muita dor, com um mes de massagens com ossos e bebidas com ervas, mas que esta completamente curada, o que foi atestado pelo medico "oficial". Disse que aqui a maior parte das pessoas prefere a medicina alternativa, a natural, a ir aos hospitais. Eh tradicao e com isso nao se brinca. No entanto, ressaltou alguns avancos que foram proporcionados pelo afastamento em relacao aos habitos ancestarias, como o fato de as mulheres agora frequentarem as escolas. No entanto, fez uma resalva: isso soh em San pedro la Laguna, uma cidade mais avancada que as outras, ja que nas utras comunidades que rodeiam o lago, os antigos habitos ainda prevalecem (como o das meninas casarem ateh os 15 anos).

Tambem relatou o quao dificil eh conseguir falar com as pessoas. Disse para eu nao estranhar muito isso, pq ha muito trauma do tempo da guerrilha, dos massacres, dos desaparecimentos. Disse que a gente tem vergonha e medo. Ha cidades cemiterio, segundo ela, em que os governistas levavam corpos e mais corpos para serem depositados. E nessas cidades, o silencio eh absoluto.

Reclamou, ainda, das perseguicoes. Disse que ontem a noite estavam na quadra de esportes da cidade, acompanhando o terneio de basquete local, quandoforam avisados de que o lider comunitario sofrera um atentado. Disse que eh uma coisa ciclica: quando alguem comeca a falar demais, falar as verdades sobre a pobreza e sobre a discriminacao dos maias, eh uma questao de tempo para aprecer morto. Mas que a associacao dos docentes eh muito organizada (tem 90 mil integrantes) e bastante combativa, tendo adotado como missao levar a verdade sobre a historia da Guatemala para sala de aula.

Buenas, o papo foi longo e nao cabe relata-lo aqui. Amanha vou pedir para gravar as conversas. Tambem devo ir andar de caiaque e trocar umas ideias com o Vicente, gerente da escola, que se ofereceu para passear pelos povoados. Mas ainda vou ver, pq parece que ha festa de rua em Pnajachel, do outro lado do Atitlán, e to com vontade de ir conferir.

Buenas, hoje fui para acasa da familia. Eh um pequeno mercado. O banheiro nao tem porta (eh uma cortina), o chuveiro eh frio e a privada nao tem agua (tem de pegar com um balde num tanque e jogar nela). Cheguei na hora do almoco: moela cozida com muito molho (uma moela para cada um, diga-se), arroz e pao. E Tang. O tempero eh otimo. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas to com uma saudade de uma alface!!! A dona da casa chama-se Rosa tambem. Seu marido é o Rafael. Eles tem tres filhos, mas apenas uma que mora aqui, Helena. É casada como Fredy, falastrao que soh. Perguntou tudo e mais um pouco sobre o Brasil em meia hora. O engracado eh que aqui ninguem sabe que falamos portugues. Todo mundo acha que o ingles eh a lingua natal dos brasileiros. Ai tem os netos: mais um Fredy (14 anos), a Rosa (12) e o Nic (3 anos). Nic vem de Benedicto. Tambem pouco sabe sobre o que acontece no mundo. Me perguntou o que me parecia o fato de Bush sair da presidencia. Eu disse que "muy bueno, Bush es un estúpido". Ele riu. E aí emendou: "quem é que foi eleito? É um negro, nao é?". Queria saber se nosso dinheiro vale mais que o deles. E disse que acha que deveriam cobrar mais dos gringos que vem para ca. Eu concordei. Vcs tinham de ver o susto que tomaram quando eu disse que tenho 30 anos e nenhum filho. Nao gostaram muito da ideia (risos). Disseram que eh um direito da mulher ter os filhos. Alias, o Freduy ta indo pro quarto...O ruimn é que eles falam mais Tzu'tujil, que é o dialeto maia do que espanhol.

Buenas, por enquanto é isso. hasta luego.
Gustavo

domingo, 23 de novembro de 2008

San Pedro, a cidade da lagoa

Ola camaradas!

Ja estou em San Pedro la Laguna. A viagem foi tranquila, numa van. A estrada eh que tava braba. Boa parte dos 150 km que separam Antigua daqui esta em obras. O trecho final da viagem eh o mais bonito, estradinha estreita, cheia de curvas e morro abaixo. E a partir de um certo ponto da para avistar o Lago Atitlan, que eh a grande atracao do lugar. Ele eh resultado de uma serie de erupcoes vulcanicas que aconteceram por aqui e formaram esse panelao em que a agua acabou ficando. Sao 300 metros de profundidade.

Chegamos as 17h30, hora em que ja esta bem escuro. Cheguei sem hotel, mas logo encontrei um, bom, bonito e barato. E o principal, com agua quente. Esqueci de dizer que, em Antigua, o albergue em que eu estava tinha aquecedores solares. Chegava a noite, hora em que todo mundo queria tomar banho, e o pobre do sistema nao dava mais conta do recado. Como a temperatura cai bruscamente aqui a noite - de uns 25 para uns 10 graus - o lance era tomar banho frio que, como podem imaginar, nao era nada agradavel.

Bem, a cidade de Sane Pedro eh realmente minuscula. Em cinco minutos a gente atravessa ela de ponta a ponta. As casas sao todas meio improvisadas, meio favelao, e ha trechos sem calcada. Alias, aqui passa um carro por vez, pq as ruas sao muito estreitas. O grande lance eh que existem umas 10 cidadezinhas ao redor do lago. Entao a diversao do povo eh pegar um barco e ir para elas. Hoje dois tiozinhos me pararam na rua. Um para oferecer maconha. O outro para pferecer as mantas que eles fazem. Disse que negocia a troca delas por roupas, principalmente calcas jeans. Vamos ver se rola escambo, apesar de eu nao ter muitas calcas aqui.

Fui conhecer a escola de espanhol. O lugar eh super humilde, mas gostei do Vicente, que eh o gerente do negocio - e tambem o jardineiro. Amanha comeco as aulas, as 8h. Sao 4h por dia. E tambem saio do hotel para ir viver com uma familia local. Acho que ser ainteressante. O Vicent eme disse que pode me contar o que eu quiser sobre a cidade. Legal, vou aproveitar isso. O lugar em que esta a escola eh um sitio arqeologico. Estao reformando o predio justamente para fazer um museu com as pecas que encontram no terreno.

To numa cafeteria escrevendo. Ha um cheiro magnifico de cafe aqui, o que me convida a uma xicara. Entao, me despeco. Espero que estejam gostando dos textos - apesar do problema dos teclados, o que me impede de acentuar.... Se tiverem sugestoes ou quiserem saber alguma coisa especifica, perguntem, por favor.

Besos,
Gustavo

sábado, 22 de novembro de 2008

Rumo a San Pedro

Buenos días!

Hoje faz uma semana que sai do Brazuca. Porra, sinceramente parece que faz bem mais. A viagem tá legal, mas realmente nao gostei de Antigua. Mas teve uma coisa boa em vir pra cá. O Vulcao Pacaya. Caralho, nunca pensei que um monte de lava escorrendo fosse uma coisa tao bonita. A escalada foi fueda. Tres quilometros morro acima. E no finalzinho, quando o cara ja acha que ta chegando, eh que vem a pior parte. O solo parece areia, soh com pedrinhas minusculas de rocha vulcanica. Um atoleiro total. Mas vale o esforco. Acabei cortando a mao (coitado de quem cair naquelas pedras, pq elas cortam mesmo!) e meu sapato abriu um pouco, mas ta valendo. Pra completar, na volta ja tava escuro e foi foda descer o morro na lanterninha (bendita a hora que eu decidi trazer a lanterna). Depois eu mando algumas fotos para vcs. O legal eh que do vulcao Pacaya tu avista o Acatenango e o Agua, outros dois que existem por aqui. Rendeu umas putas de umas fotos.

Bem, ontem foi uma boa parte da galera do meu quarto embora. Coincidentemente, rumaram para San Pedro la Laguna, para onde tbem vou. La vou estudar espanhol. Nao sei muito bem como vai ser a hospedagem, mas devera ser com uma familia maia. Dizem que muitos que chegam por la nao querem mais sair, de tao bonito que eh o Lago Atitlan. Veremos.

Hoje to economico, entao vou ficar por aqui. Secando os bambi e torcendo pro tricolor dos pampas.

Beijos e abracos,
Gustavo

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

En La Antigua


Están bien?

Foi sob a protecao de San Miguel Arcanjo que cheguei a Antigua. Pelo menos é o que dizia o adesivo colado no vidro, ao lado do motorista do ônibus "Esmeralda" que me trouxe até a antiga (daí o nome) capital da Guatemala. A viagem foi meio frustrante. Diante de tantos relatos do Lonely Planet sobre os chickenbuses, já tava preparado para carregar um leitao no colo, ou coisa parecida. Mas nada nem perto disso se passou. Aliás, tô achando que o Lonely PLanet mandou um frescao para essas terras. Tem umas dicas furadas e as coisas que o cara recomendou sao sempre as mais caras.

Sobre o onibus, é um daqueles escolares americanos, mas com pinturas novas. Além do nome da companhia do veiculo (deve ter umas 30...) tem o nome do veiculo, sua identidade. Sim, como nos barcos. Ai tem o Rosita, o Alba Maria, o Vicki my love, etc...Muito bacanas e bem cuidados. A passagem tbém é barata. Custou o equivalente a 1 dólar (sao 45 km de distancia). O engracado eh que aquela historia de nao conversar com o motorista eh piada por aqui. O maior falastrao do onibus eh o cara. Outra curiosidade é que eles nao fazem muita questao de ir pro acostamento para parar. Fulano abanou, o onibus pára no meio da estrada mesmo.

Bem, estou na Yellow House, um albergue. Divido o quarto uma americana, uma alema, duas holandesas e um inlges. Dá para ter uma ideia do quao tomada a cidade eh pelos branquelos europeus e suas bochechas queimadas de sol. Sao meio chatos. Sabe aquele povo descolado que vê passarinho verde em qualquer lugar e esta sempre animadinho? Deus do céu, to ficando velho, mesmo. Mas cá entre nós, gente feliz demais enche o saco...Bem, a verdade é que nao gostei da cidade. É uma gringolândia, tudo é limpinho, bonitinho. Realmente nao e sinto confortavel. O povo daqui eh gente boa, simpatico, mas parecem invisiveis. A gringada soh da atencao quando eh para coprar alguma coisa, mas bom dia que eh bom ninguem distribui.

Hoje caminhei por umas igrejas e ruínas que existem aqui. Bonitas. Mas nada de cair o queixo. Daqui a pouco vou subir o vulcao Pacaya, o unico que esta ativo na regiao. Dizem que eh bacana, vc chega perto da lava e tudo. Tomara que seja bom mesmo.

Buenas, como fodido é fodido mesmo, meu e-mail do Yahoo nao ta abrindo. Por favor, mandem tbem pro gustavodhein@gmail.com.

Beijos e abracos,
Gu

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Hola, que tal...

Buneos dias.

Aqui sao 9h da matina, ou seja, 13h por ai. Ta tudo na paz. Hoje devo ir a Antigua, a antiga capital da Guatemala (mudou no século XVIII por conta de um terremoto). Mas ñ devo me deter por lá muito tempo. Até pq me disseram que é uma cidade de "fantasia", feita pra gringo ver, com tudo bonitinho, limpinho, sem pobres pelas calcadas. Mas vou ver se escalo pelo menos um dos vulcoes. Dizem que o que esta em atividade eh o mais legal. Mas precisa ter um guia fodón para levar pelos caminhos, pq o cara pode virar frango assado quando chega na boca da cratera. Para ir ateh la vou pegar um dos famosos chickenbuses, que recebem esse nome pq o povo entra com galinha mesmo. E me disseram que sempre cabe mais um. Deve render umas boas historias.

Ontem o dia foi sossegado, sem muito por fazer. Fui ao Museu de História Nacional. Bem decepcionante. O lugar tá largado e simplesmente pula todo o periodo da guerra civil...Buenas, pelo menos vi. Depois fui acompanhar uma manifestacao que ja dura dois dias em frente ao Congresso. Estao querendo barrar o projeto de orcamento do governo para o proximo ano. Os camponeses e indigenas eram a maioria dos protestantes, reclamando de cortes no orcamento, que afeteriam as verbas destinadas a eles. Ontem o governo anunciou que vai criar 905 postos de distribuicao de alimentos para familias vitimas da guerra civil. Esse tema é relamente recorrente por aqui.

Aproveitei para comer uns doces típicos. Quase todos sao frutas caramelizadas. Muito boas. A fruta da hora sao aquelas ameixas amarelinhas que a gente ve pelas ruas em cidades do Rio Grande do Sul. Se faz de tudo com elas: doce, suco, etc. E fui num lugar vegetariano para ver se rolava algo mais light...comi chuchu...empanado (kuakuakua).

To tentando economizar ao maximo. As coisas sao bem acessiveis aqui. Soh os ingressos para os museus eh que estao pegando duramente no bolso. No final do ano passado o governo aumentou o valor de todos (tem um carimbinho avisando isso, pq as entradas sao antigas ainda). O de História Nacional, por exemplo, agora custa Q 50, enquanto antes saia por Q 15. Mas acho que ta certo. Tem de enfiar a faca nos gringos mesmo.

Ontem rolou a segunda entrevista. esqueci de trazer as fotos para posta-las. Foi com o Guianni. O cara eh gente finissima. Tava me contando que mora num distrito da capital. Que nas ruas que circundam a casa dele, eh comum ver meninos de 8 ou 10 anos com armas e ateh granadas. Me avisou um monte sobre os roubos, mais uma vez (tanto que fui embora dobar mais cedo por conta disso). A entrevista foi muito boa. O cara tem bastante fundamentacao. E o melhor é que aparentemente ganhei um camarada.

Ah, a cerveja aqui nao eh das piores. Tomei uma tal de Golden Ice. Digamos que eh uma Kaiser. Tem a Gallo, que eh a mais tradicional, mas achei pior (uma Bavaria). Brahma aqui se chama Brahva (e estao sorteando passagens pro carnaval do Rio). Essa eu nao provei pq, afinal de contas, Brahma eu tomo em casa! Alias, tem um monte de promocoes cujo premio eh uma viagem ao Brasil. Ontem à noite tava zapeando a TV e dei de cara como Lázaro Ramos. Outra novela da Globo. Mas dessa vez num canal local. Dublagem engracadissima.

Buenas, hoje me despedi da tia que faz o cafe da manha no hotel. Ela foi com a minha cara. Acho que eh pq conversei e elogiei tanto os ovos estrellados (fritos) como os revuletos (omelete) que ela faz - como podem perceber, ovo no cafe-da-manha, por aqui, eh sagrado. Agora vou ver se descubro qual a melhor parada de onibus para Antigua e me despedir da Martina, a camareira do hotel, que eh uma figurinha muito simpatica.

beijos e abracos,
Gustavo

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Mais notícias

Buenas, amigos,

continua tudo bem por aqui. Algumas coisas sobre o país: 90% da comida é frita. E o resto é porrada. Coisinhas leves como feijao com costela de boi...Buenas, a sorte é que fui conhecer o mercado público do centro e me atraquei numas fruas (santo canivete suico que o rivaldao me deu, que tá ajudandopra caramba). Aliás, o mercado é interessante. Tem de tudo, de roupa a galinha frita. Meio sujo, mas simpático. E tem umas trotillas ótimas.

Outras coisa: as noveleiras que quiserem vir pra Guatemala podem relaxar. Pega a Globo na TV a cabo. Ñ no meu hotel, pq eh fuleiro, mas pega. Aliás a programacao da tv a cabo eh exatamente a mesma que no Brasil. Como o fuso é diferente, o House, por exemplo, que passa quinta-feira às 23h no Brasil, aqui passa quinta às 19h. É essa maldita globalizacao, traduzida, por exemplo, nos MacDonalds e Burger Kings espalhados pela cidade.

A cidade de Guatemala ñ é famosa por ter muitos atrativos. Mas os poucos que existem estou tentando aproveitar. Fui no Palácio da Cultura, na Catedral Metropolitana, no Museu Etnológico e Antropológico (que é muito legal), no Museu de Arte Moderna, etc. Ontem me meti numas busangas públicas. Os ônbus aqui transitam com as portas abertas. A tarifa é 1,10 quetzales, mas os motoristas, que sao também os cobradores, pedem apenas QZ 1,00, pq nao têm troco. Isso equivale a pouco mais de 20 centavos de real. Os ônibus estao caindo aos pedacos. Mas o povo eh bem educado. Como as portas da frente e de trás ficam abertas, todo mundo pode entrar e sair quando quiser. Mas todo mundo vai até o motorista e paga. Em quase todos os ônibus ficam uns guris na porta berrando o titinerário. Outro detalhe é que o ônibus pára em qualquer lugar, mesmo. Vc pode subir e descer onde quiser. E é engracado pq às vezes tem uma pessoa numa esquina e dez metros depois tem outra, esperando o mesmo ônibus. E ele pára para as duas. Outra coisa parecida com nosso país tropical abencoado por Deus sao os ambulantes e gente pedindo nos ôibus. Nas ruas até que nao se vê muito disso. Normalmente quem pede sao pessoas mais velhas, com mutilacoes, provavelmente dos tempos de guerra. Já vi duas pessoas com maos amputadas, por exemplo...

Enfim, peguei o busao para ir aos Museus de Etnologia e Antropologia e de Arte Moderna (cujo grande destaque sao as obras do Carlos Merida). Mas aí resolvi ir conhecer a perifa no ônibus. A cidade da Guatemala lembra muito o bairro da Vila Maria, porém muito mais pobre. Há áreas bem delimitadas de riqueza e pobreza. A cara da cidade muda de uma rua para outra. Parece o Morumbi e a sua favela vizinha.

Os maias sao a maior parte da populacao, mas ainda assim sao discriminados. Hoje ha uma reuniao aqui de uma Secretaria Nacional contra o Racismo e Preconceito, que discutemedidas sobre o tema.

Alias, aos criticos de Cuba, que ficam mandando fotos da precariedade da infra0estrutura da ILha, devia vir pra cá. Afinal aqui existe "competitividade", "liberdade" e, sem sombra de duvidas, o que vi lá em Havana é melhor do que vejo por aqui.

Ontem fui fazer a entrevista com Ebvleb, da Abyssum. Foi num bar chamada La Cueva del Dragon, que fica bem no extremo na Zona 1, o centro da cidade. Confesso que nao sabia que era um bar e tava coma pulga atrás da orelha, mas deu tudo certo. As ruas é que sao muito escuras e à noite há muitos travestis. O boteco é do Guianni, baterista de outra banda, a Eterno Impeler. Ambiente legal, paredes tomadas de pôsteres e adesivos de bandas, gurizada tomando cerveja e falando de música - e ouvindo, é claro. A conversa foi boa e hoje volto lá para falar como Guianni. O Ebvleb mandou bem. Achei que ia ficar puto quando comecei a perguntar sobre algumas coisas que eu achava incoerentes na música e discurso dele...mas levou na boa. Vou ver se mando a foto das figuras.

Por enquanto é isso. Hasta luego,
Gustavo

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Direto da Guatemala

Olá, amigos! Em primeiro lugar, peco desculpas pela falta de acentos. O teclado aqui é diferente. Para botar a porra do sinal de arroba eh preciso digitat ALT + 64. Só para terem uma idéia da chatice.

Cheguei bem na Guatemala. Confesso que ainda com uma sensacao de fracasso por nao estar indo a Cuba, que mora no meu coracao. Mas paciencia. O Comandante deve ter la seus motivos e nao eh isso que vai me fazer desacreditar nele.

Tive o prazer de viajar em um aviao brazuca, da Embraer, no caminho até aqui e constatei que eles podem ensinar os gringos a fazerem uns bancos mais largos. Bem, o hotel em que estou fica na Zona 1, no centro da cidade. Banheiro compartilhado, mas limpinho, café da manha barato e reforcadissimo. Como em todas as outras capitais que conheco, o centro eh meio perigoso. Ja alertaram bastante sobre os roubos, mas até agora, tudo tranquilo.

Apesar do pouco tempo, já deu para perceber que os guatemaltecos sao muito simpáticos. Eh só dar um buenos dias, buenas tardes ou buenas noches que abrem o sorriso e conversam. Sao timidos pra caramba também. Certamente heranca da ditadura e dos anos da guerra civil, uma das mais longas da america latina. Ha muita gente armada, principalmente nas lojas, protegidas por sagurancas. Nelas, os balcoes com equipamentos digitais sao fechados com correntes e cadeados. Dizem que a policia eh pouco confiavel. Ha tambem varios cartazes de desaparecidos politicos espalhados pela cidade. Aqui estao vivendo uma explosao de telefonia celular e lan houses. Onde tu olha tem uma dessas duas coisas. E de credito. Tudo em 12 vezes...parece que a historia em nosso continente soh muda de lugar.

Ontem fui num show de heavy metal por aqui (Black Metal, na verdade - aliás é o estilo preferido deles). Tocaram quatro bandas: Falso Profeta, Necropsia, Eterni Impeler e Abyssum. Essa última é a banda do Ebvleb, o cara que vou entrevistar e que é "o" líder da cena na cidade. O show foi num estacionamento, curiosamente ao lado de uma igreja. E dava para ouvir o povo cantando hinos religiosos nos intervalos entre os shows dedicados ao capeta (kuakuakua). A gurizada que estava presente era unanime em falar mal da religiao e do governo. O som podia estar melhor, já que as músicas sao boas, o público era de pouco mais de 100 pessoas, mas foi divertido. Bandas empolgadíssimas e headbangers também. Quando cheguei, nao sei quem estava mais acanhado, eu ou os guatemaltecos. Muitos chegavam para falar comigo, curioso e ficavam bem mais a vontade quando sabiam que eu era brasileiro (todo mundo achava que eu era americano). Bati uns bons papos. Legal é que além de Sepultura, Sarcófago e Krisiun, os caras conheciam mais uma referencia brasileira, e nao era o Pelé. Era Lula da Silva. Virei celebridade e até teve gurizada tirando foto comigo (kuakuakuakua). Um dizia que achava que eu era o vocalista do Burzum. Eu disse que se o cara nao estivesse preso eu ficaria mais lisonjeado.

Buenas, hoje vou ateh o museu antropologico. Aprender um pouco mais sobre os maias.

Beijos a todos.