quarta-feira, 8 de abril de 2009

Cuba - parte 3

Peço desculpas,mas envio só uma versão resumida.

Cuba - parte 3

Estilita
Como numa boa novela, o melhor ficou pro final. Infelizmente, nesse caso, o texto vai terminar sem soluções fáceis.
Minha primeira opção de hospedagem em Havana era a casa de Nicolas e Rosy, em que fiquei no ano anterior, mas já estava lotada. E posso afirmar que fico feliz que estivesse. Porque foram eles que me indicaram a casa de Estilita, 85 anos e militante do Partido Comunista desde antes da revolução. Foi divertidíssimo estar com ela. Quando a velhinha ficou sabendo que eu era simpatizante de Castro, então, ficou enlouquecida de felicidade. Já me entregou uma montanha de recortes do Granma, que estava reproduzindo os discursos que Fidel fez ou escreveu em 1959 - uma fora de comemorar os 50 anos da revolução. Ela guarda todinhos, e mantém aquele monte de papéis rampeados penduradosna parede, ao lado do calendário.
No primeiro da estada, Estilita me perguntou a que horas eu voltaria para casa na noite. Disse que achava que pela 1h, mas cheguei às 4h. Ficou meio azeda e no dia seguinte meu café da manhã estava marcado para 9h. Acodei no horário combinado e ela não tinha nada pronto, disse que achava que eu não ia aparecer tendo chegado tão tarde. Mas ao cumprir com o prometido, ganhei a velha outra vez. Já conversamos sobre os artigos do Granma, ela me falou do presunto que eu tava comendo, que era brasileiro, disse que eu já podia transitar por onde quisesse na casa. Estilita é uma daquelas velhinhas de pegar e amassar, de tão querida. É toda cheia de graça, como ao dizer, sempre que ia sair, que deveria (ou no caso, deveríamos, já que normalmente eu saia com o camarada Pedro) “me divertir muito e gastar pouco”. E me recomendou não dar qualquer dinheiro a ninguém. “Aqui ninguém morre de fome”, disse, reforçando o que já me haviam afirmado outros, outras vezes.
Estilita tem uma longa história no partidão. Começou a militar em 1953, na clandestinidade. Quando ainda vivia na província de Villa Clara, onde também estavam seus pais, já participava de encontros em que grupos se reuniam para assistir televisão em um barraco, para inteirarem-se do que estava contecendo no mundo e discutir alternativas. Ela contou que seu pai também era militante, embora procurasse ocultar isso dos filhos. Ela só confirmou que ele era comuna quando foi alertada sobre seu possível desaparecimento. O pai de Estilita, quando eclodiu a revolução, tratava de arrumar dinheiro e meios de fazê-lo chegar à Sierra Maestra. Foi assassinado por um oficial do exército que lhe devia uma grana. Estilita disse que o crime nunca foi bem elucidado, mas quando ela encontrou esse oficial, anos depois, ele respondeu que ela deveria ficar calada ou teria o mesmo destino que seu velho. Precisa confissão maior que essa?
Estilita busca estar bem informada. Ainda que os jornais impresso e televisivo não tragam lá muitas coisas, ela se esforça. É fã de Evo Morales. Principalmente pela sua descendência Aimará. E diz que espera que a tão falada integração latinoamericana aconteça. Um dia me perguntou se eu achava que havia solução para nossos problemas e para enfrentar os Estados Unidos. Respondi que eu acreditava que só seria possível se nos aproximássemos e dificultássemos mais as coisas para eles. Ela não entendeu direito e já foi largando: “Com os americanos eu não me integro de jeito nenhum”. Ai reforcei que era integração entre “nosostros”. E ela gostou. “Ya conoci el capitalismo y el socialismo. Y siempre voy a defender el socialismo”, disse. O triste, segundo ela, é que pouca gente acredite que todos possam viver em maior igualdade.
Um dia, Alejandro, um vizinho, estava na casa e começamos a conversar. Queria saber mais sobre o Brasil, se o filme Cidade de Deus traduzia a realidade, e começou a se queixar de que Cuba produz muito pouco. Estavam, por exemplo, felizes que haviam chegado algumas batatas à cidade, e assim estavam matando a saudade de comer batatas fritas. Aí começou a perguntar sobre uma série de produtos e sobre se o Brasil os tinha internamente: manga, maça. Laranja, trigo, soja, feijão, arroz, fumo, cacau, carne, ovos, etc. E eu respondendo, sucessivamente: sim, sim, sim, sim...Até que chegou num ponto em que ele me perguntou como, se temos tudo isso, há tanta desigualdade no Brasil. “Y porque aún son um país pobre?”. Grande pergunta.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Cuba - parte 2

Quero só fazer mais um comentário sobre as novelas brasileiras. Especificamente sobre a clássica Escrava Isaura. Lázaro nos contou que no ano em que a novela passou, coincidiu que os capítulos finais foram transmitidos no período do carnaval cubano, que acontece em julho. Resultado? Foi a única vez em que as ruas ficaram sem foliões. Pelo menos até acabar o capítulo da novela, a cidade ficava deserta. Feito o comentário, vamos a...

...Juan
Eu e Pedro conhecemos Juan por intermédio de Lázaro, na noite em que ficamos até a madrugada no boteco. Se apresentou como sendo rastafári e como um grande fã de cinema, inclusive do brasileiro. Batemos um bom papo, ele descrevendo filmes nacionais que tinha visto - e dos quais não lembrava o nome - e eu adivinhando os títulos. Adorou Cidade de Deus, o recente filme do Barreto sobre o ônibus 174 (exibido no festival de cinema latinoamericano de Cuba) e Quem matou Pixote. O cara viu bastante coisa mesmo.
Pois bem, não falamos muito na noite porque ele alternava um bate-papo com umas bailadas com uma cubana. Mas o reencontramos caminhando pela rua, perto do Capitólio. Convidou-nos para irmos com ele para um centro cultural, ouvir salsa. Fomos. No caminho, compramos uma cerveja que uma mulher vendia a preços bem mais baixos. Isso porque ela enchia as garrafas em casa, onde tinha um barril cheio. É a história das ilegalidades. Ali uma moça, muito bonita, diga-se, já pediu para ele me perguntar se eu não tinha interesse nela. Meu, é evidente que tinha, um mulherão daqueles não tem como não ter interesse, mas declinei o convite e seguimos cainhando.
Antes de irmos ao centro cultural, porém, nos levou na casa dele. Foi meio assustador. Entramos por uma porta que dava para um pátio escuro, onde havia pequenas casinhas e apartamentos. Uma péssima impressão, mas nada que no Brasil não se encontre bem pior. O susto maior foi quando entramos no apartamento, cujo acesso era por meio de uma estreitíssima escada caracol. Num lugar de uns 40 meros quarados estavam oito pessoas. Uns quatro na cama, outros em cadeiras ou na cozinha, que ficava na mesma peça. O banheiro era separado por uma cortininha e a água era armazenada em alguns latões e em um tonel. Não sei de onde estava vindo, mas tava lá. A descarga não funcionava. Tinha baratas andando em meio às escovas de dentes.
Mas todo mundo muito simpático e fizeram até cafezinho pra gente. Depois vieram as explicações de quem morava com quem e onde, o que aliviou um pouco a má impressão, já que estávamos com a idéia de que viviam todos empilhados, empilhados. Detalhe é que junto, no apartamento de baixo, que Juan compartilha cm um irmão, vive um cachorro dobermann (risos).
Habitação é um problema que Cuba está buscando resolver, mas com dificuldades. Dois motivos pesam bastante para agravar o tema. O primeiro, a incidência anual de furacões e tornados na Ilha, que deixam pessoas desabrigadas e explica muitos dos casebres que se vislumbram principalmente na região oriental de Cuba, normalmente mais afetadas pelas intempéries.
O outro motivo, é que depois da revolução as casas foram distribuídas entre as famílias que moravam nelas e/ou desapropriadas e entregues a outras. Com isso, por muito tempo houve um descuido com relação a ampliar a oferta de habitação no país. Assim, uma das reclamações dos jovens é não terem seu espaço para morar quando querem deixar suas casas. O problema é que as coisas caminham lentamente pela dificuldade de acesso a materiais de construção. Pelo que nos explicaram, o governo adota o seguinte modelo para viabilizar a habitação aos cidadãos que querem uma nova casa: trabalhar em mutirões comunitários, que tratam de erguer prédios públicos e residências. entre essas edificações feitas pelos grupos de trabalho estará a casa do sujeito que ajudou a construí-las. Como no caso da universidade, em que se exige o cumprimento de um período de trabalho ao governo, uma forma de incentivar a participação e promover a valorização dos recursos repassados pelo Estado aos cidadãos.
Voltando a Juan, na seqüência, fomos ao centro cultural e digamos que ali deu para ter uma idéia ainda melhor de côo os cubanos se divertem. Música, muita música, dança, muita dança, e rum. Aliás, a sensação do momento em Cuba é um rum em caixinha longa vida, que é baratíssimo e o povo toma que nem água. Devem ter fígado de aço. Sério, é uma paulada. O povo se diverte, todo mundo falando alto, trocando de par no salão, enfim, bonito de se ver.
E alí conhecemos Dario, um cara que aparenta uns 40 anos mas já carrega 60 nas costas. Disse que Juan era um mau caráter, um jineteiro, que envergonhava os cubanos fazendo isso. Juan deve ser mesmo, nas horas vagas, mas normalmente trabalha como soldador. Dario disse que gosta muito da cultura afrobrasileira, se apresentou como rasta e afirmou que Juan não o é. E finalmente encontramos um cubano que não gosta das novelas brasileiras. “Elas não mostram nada do que é a realidade do Brasil, assim como as mexicanas não mostram a realidade do México. Então, não me interessam”, disse, seguindo com um discurso de necessidade de integração latinoamericana, da solidariedade que existe entre os cubanos, etc.
O papo foi supervisionado por Juan que depois me perguntou o que Dario tinha me dito. Acho que tomou um susto quando contei a verdade e começou a se justificar. Depois, fomos buscar uma amiga alemã dele, que está com o namorado cubano preso. Não perguntem o motivo porque não nos falaram. Na seqüência, demos uma de perdidos e dissemos que nos veríamos mais tarde, o que não aconteceu.

Cinema e Ópera
O acesso à cultura, para os cubanos, é baratíssimo. Sai quase de graça e os lugares como cinemas e teatros costumam registrar filas gigantescas. No cinema, por exemplo, eu e o Pedro entramos na fila achando que não ia servir todo mundo, até entrar no gigantesco salão em que, sem brincadeira, devem servir umas 500 ou 600 pessoas.
Fomos ver o filme Los Dioses Rotos. Película cubana e recentemente lançada. O filme é até surpreendente pelo conteúdo crítico ao regime. É uma história sobre jineteiros, prostituição, drogas, violência. Baseado em um livro de um autor cubano. O divertido é o comportamento do público. É torcida de futebol. Quando aparece uma cena de sexo – aliás, saímos eu e metade do cinema apaixonados pela Sandra, a personagem principal do filme – é engraçadíssimo. Gente gritando, outros delirando, outros gargalhando. Tenho a teoria de que, como a pornografia é proibida em Cuba (revista de mulher pelada, só na clandestinidade) há uma grande inocência, ainda, em relação ao tema.
Também fomos à opera. Só para se ter uma idéia, o preço do ingresso mais baixo para os cubanos, era de 2 pesos em moeda local ou seja, US$ 0,08. A peça apresentada foi A Flauta Mágica, de Mozart, com uma montagem moderninha, bem interessante, apesar de algumas gracinhas sem a menor graça. A adaptação deixa claro quem é quem na história: quem são os EUA, quem é Fidel, quem é o povo cubano, etc. Bem interessante e também com algumas partes críticas, como quando o personagem principal tem a boca lacrada e diz, com ênfase, que o cadeado é estrangeiro, numa clara alusão à censura nacional. E o legal é que dá para comer pipoca no teatro (kuakuakuakua).

As coisas que irritam
Os cubanos definitivamente não têm problema de auto-estima. É comum, quando se conversa com alguém, que você logo escute um “para que usted sepa”. E isso vale para tudo quanto é assunto, do futebol brasileiro – que alguns crêem conhecer mais que a gente – ao compositor de Garota de Ipanema.
Sobre a música mencionada, aliás, descobrimos uma novidade. Um músico de rua, que veio tocar pra gente, é claro, perguntou se sabíamos quem a tinha composto. Não deu nem tempo de responder. Ele disse que ninguém sabe, que é um grande mistério, que a musa inspiradora era uma qualquer, assim como o compositor é um anônimo. Pobre Vinícius. Pobre Tom. Pobre João.
Outra coisa é o assédio de jineteiros. Normalmente os cubanos não são invasivos. Os que são, realmente estão querendo mais que uma conversa. E às vezes pode ser meio chato se livrar deles, principalmente em Havana. Quando regressei de Santa Clara à capital, um cara me ofereceu hospedagem. Eu disse que já tinha e aí o cidadão começou a caminhar ao meu lado. Conversávamos, até que perguntei onde ele estava indo. A resposta: “onde você quiser ir”. Dei uma risada e disse que a partir de aquele momento eu ia sozinho. O cara ficou desconsertado. Mas aceitou a dispensa.
E existem os grandes enigmas da humanidade. Um deles não se relaciona aos cubanos, especificamente, mas a todos os latinoamericanos. Quando você diz que é o do Brasil logo vem uma enxurrada de palavras soltas. Primeiro, um “Ohhhh, Brasil!” Depois, “Samba!”. Depois, “Futbol!”. Depois, “Carnaval!”. E em raros casos, “Caipirinha!”. O enigma é: por que isso só acontece com brasileiros? Quando é um alemão, ninguém sai falando “chucrute, cerveja e mulher com pêlo no sovaco”. Ou se é italiano, não dispara palavras como “vinho, espaguete e Pavarotti”.
Outro enigma: por que os cubanos são tão curiosos? Sério, fazem perguntas que não servem pra nada. Exemplo? Você pára na rua e pergunta para um guarda se há uma casa de câmbio por perto. Ele responde, perguntando: “você vai sacar com cartão ou trocar dinheiro?”. Qualquer que seja a resposta que você der, provavelmente ele vai dizer que não sabe. Ou seja, perguntou pelo simples hábito de perguntar.
Cuba é um país-prodígio quando se analisam seus indicares educacionais. Mas na educação do dia-a-ida, nos hábitos, eles ainda precisam avançar um pouco. E mais de uma pessoa reforçou isso. Eles são meio afobados para muitas coisas e muito mansos para outras. São afobados na hora de comprar nos mercadinhos, em que vão atropelando. E são umas moças na hora em que estão sendo atendidos, por exemplo, na central telefônica, em que, aparentemente, forma empregados apenas os campeões da paciência ou da lentidão. É raro alguém reclamar. E mais: cada pessoa só faz uma coisa de cada vez, ou seja, se o cara está contado o dinheiro do caixa, pode cair um prédio do lado dele que ele não desvia a atenção. Fica ali, concentrado até terminar. Depois, só depois, vai ver se sobrou alguma coisa do prédio.

Depois remeto a parte 3.

terça-feira, 10 de março de 2009

Cuba - Parte 1

ADVERTÊNCIA: O TEXTO A SEGUIR PODE SER EXTREMAMENTE CHATO PARA QUEM NÃO SE INTERESSA PELO DIA-A-DIA CUBANO E NÃO TOLERA UMAS DESLIZADAS EMOTIVAS. PEÇO DESCULPAS POR ALGUMAS REPETIÇÕES DE TEMA.

La isla

Um amigo chega para o outro e diz: “Sabe tudo aquilo que nos contaram sobre o socialismo? Boa parte é mentira.” Ao que o outro responde: “Pois descobri uma coisa ainda mais aterradora, camarada. Sabe tudo aquilo que nos falaram do capitalismo? É tudo verdade.”

A Ilha Cuba não é a perfeição que querem fazer crer seus adoradores e nada daquilo que falam seus detratores, como bem definiu meu irmão, quando estivemos aqui pela primeira vez. Mas como não sou tucano para ficar no muro, desço para o lado esquerdo, onde sempre estive e quero continuar a estar. Sou um adorador desse país que há 50 anos mudou a história da América Latina – quizás del mundo! - e que carrega, desde então, o espírito revolucionário que está longe da cova e começa a alastrar-se novamente a outras partes das terras descobertas por Colombo. É por conservar esse espírito e contagiar outros povos com ele, que Cuba ocupa, no cenário mundial, um papel inversamente proporcional ao seu tamanho geográfico. Os fatos que se desenrolam aqui, nessa pequena Ilha caribenha, ganham sempre uma atenção e um interesse gigantescos. Não é para menos. Cuba é sinônimo de esperança.


Pés-no-chão
Ao desembarcar no Aeroporto Internacional José Martí você já sente que está em Cuba. E é pelo cheiro. Na sala de espera das bagagens, depois de passar pela imigração, o inconfundível odor dos puros serve como verdadeiro anúncio da chegada. Da primeira vez que passei por aqui cheguei a pensar que era uma indução psicológica minha, mas desta vez, tive a certeza de que não.
O movimento no maior aeroporto da Ilha não é pífio se comparado com o que existe em outras partes, como São Paulo, por exemplo. O número de vôos que passam por aqui é pequeno e, por isso mesmo, o ambiente é tranqüilo. Há uma demora grande para pegar as bagagens. Depois de recolhe-las na esteira é preciso sair em busca dos cubanos conversíveis, os CUCs, moeda que é utilizada pelos estrangeiros. Um CUC vale 10% mais que o dólar.
Sempre há, também, na área de desembarque uma multidão de gente oferecendo taxis. Eu aceitei a oferta de um desses viventes que disputa a atenção dos visitantes. Por 25 CUCs (um roubo) e “una propinita” me levou até a Rua Bruzon, número 103, pertinho da Praça da Revolução, onde fiquei hospedado nos primeiros dias desse regresso. No caminho, percorrido a bordo de um Lada Laika caindo aos pedaços mas com um rádio com mp3 novinho, o cenário é um pouco deserto e há placas exaltando os 50 anos da Revolução. Muros pintados com dizeres de estímulo ao orgulho cubano estão em várias partes também. Gente jogando beisebol e futebol pelas áreas verdes completam o cenário. São uns 25 minutos de corrida. Passando a estação de ônibus principal, de onde saem os ônibus da Astro, a empresa estatal que liga o país de ponta-a-ponta, entramos na primeira à direita, andamos mais três quarteirões e pronto. Chegamos à casa da família Goicotchea.
Desci do táxi e toquei a campainha. Nada de vir alguém. Escutava um barulho como se a estivessem abrindo, mas ninguém aparecia. Até que Rolando, o dono da casa, grita da sacada: “Gustavo, la puerta esta abierta”. O sistema de abertura automático é uma cordinha que vai do trinco até a sala de estar, de onde ele a puxa. Meu anfitrião estava animadíssimo e um pouco embriagado. Subi as estreitas escadas e ele me apresentou rapidamente a habitação, os cômodos por onde poderia transitar, o telefone – de onde, segundo ele, era permitido ligar até para a China se eu quisesse – e pergunta se eu tenho roupas para vender. Rolando é bastante nervoso, fala alto como poucos, mas boa gente. O problema é que quer comprar tudo de seus hóspedes. No dia seguinte quis comprar meu celular, queria saber se eu trazia um MP3, enfim, é um homem de negócios. Nada contra, não fosse o fato de que sua conversa se limitasse a isso.
Amor à segunda vista
Em Havana, a primeira impressão não é a que fica. O centro da cidade e seus arredores pode ser impactante para quem esta acostumado à vida em um ambiente de consumo, ostentação e acesso fácil às mercadorias.
A sujeira pelas ruas (que no centro é agravada pela falta de vegetação), combinada à aparência decadente de muitas das fachadas das casas, provoca uma sensação estranha, de desconforto até. E ela só vai se desmanchar para quem está disposto a ir um pouco mais a fundo e caminhar tranquilamente pelas ruas da maior cidade caribenha. Tranquilamente não se refere somente à velocidade com que se caminha por elas, mas também à segurança, já que aqui roubos quase inexistem. Isso, em grande parte, por conta dos Comitês de Defesa da Revolução, que estão em cada quarteirão e que também servem como vigilantes. Outra razão para tranqüilidade é o fato de que por aqui você não vai olhar para o lado e enxergar outdoors da Coca-Cola (ainda que existam algumas lojs que a vendam), da Pepsi, da Ford, etc., e, incrivelmente, não vai ver nenhum MacDonalds, Burguer King ou Pizza Hut. Ufa, que alívio.


Partagás
Na entrada do antigo prédio que abriga mais famosa fábrica de tabacos cubanos, a Partagás, que fica bem no centro da cidade, atrás do majestoso Capitólio, uma cena curiosa. Um turista que chegava com um cigarro garro na mão deu marcha ré enquanto o segurança lá de dentro dizia: “Señor, por favor, adelante”. O visitante apagou o cigarro na calçada. O cubano da portaria abriu um sorrisão. “Señor, aqui és permitido fumar”.
Aliás, não só aqui. Cuba é um paraíso para os fumantes. Quem se sente perseguido por leis antitabaco pode desembarcar aqui com a certeza de ter liberdade para tragar sossegado em 90% dos lugares. Até dentro dos quartos dos hotéis e das casas de famílias há cinzeiros. Na casa Goicotchea, um cinzeiro “profissional”, desses que existem nos shopping centers brasileiros, está na sala de estar e sempre cheio de bitucas. Mas eu falava de...a fábrica de charutos.
Na primeira viagem que fiz a Cuba, as férias coletivas impediram que a conhecesse por dentro. E vale muito a pena fazê-lo. O tour, oferecido em várias línguas, sai por CUC 10 e dura mais ou menos meia hora. Na fábrica trabalham 600 pessoas. A rotatividade é pouca, normalmente acontece somente quando alguém pede para sair ou se aposenta. Para ingressar, os funcionários passam por uma escola em que durante nove meses aprendem o que é preciso para que os puros sigam sendo um dos destaques de Cuba. Os salários giram em torno de 35 CUC ao mês, ou 700 pesos locais, o que segundo nossa guia é suficiente para viver. “Aqui no pagamos por la escuela y ni por la salud”, justifica.
Na Partagás são oito horas de trabalho diário. Existem quatro andares dedicados às diversas tarefas que se cumprem até que os puros cheguem às caixas de madeira. No térreo está a loja para vender os habanos. No primeiro piso, aproximadamente 250 pessoas, a maioria mulheres, faz a seleção das folhas de fumo. As separam e sacam a nervura central. Assim, cada folha resulta duas separadas. São classificadas pelo tamanho e com base nisso empregadas para a fabricação de um ou outro tipo de charuto específico. As folhas seguem para o andar de cima, onde são classificas por função, ou seja, aquelas que serão o miolo do charuto (são três tipos) e a que vai envolvê-lo. Depois, passam para os funcionários que efetivamente enrolam os puros. Cada um tem sua responsabilidade e faz um tipo de cigarro (quase todas as marcas cubanas são feitas e os Cohibas, por exemplo, são os mais fortes e por isso possuem uma composição específica) do início ao fim. Por dia, a meta é de 80 a 130 charutos por funcionário. No mesmo andar, uma equipe verifica todos os cigarros com relação ao tamanho e à espessura, descartando aqueles que não se encaixam no padrão. Quem pisa demais na bola é penalizado no salário. Os restos de tabaco nas mesas são reaproveitados para a produção de cigarros.
Já enrolados, os puros vão para o setor em que são encaixotados. Nessa parte, há uma porção de senhoras selecionando-os de acordo com sua cor. Dos mais escuros aos mais claros. A idéia é dar uniformidade à composição das caixas de charutos, ainda que a cor não seja tão importante para o sabor. Depois os habanos são novamente ordenados por tonalidades que, confesso, para mim, parecerem sempre a mesma. Só com olho bem treinado para distinguir e colocar em ordem. Finalmente, há os trabalhadores que colocam os anéis de fabricação e os que carimbam as caixas com códigos que permitem identificar a procedência e a data de fabricação. A ex-fumantes o passeio não é recomendável. O forte cheiro de tabaco no ar, combinado à atmosfera agradável do lugar – em que muitos funcionários estão fumando – , provoca uma tremenda vontade de acender um charuto na hora!
Todos os habanos feitos aqui são destinados ao mercado internacional. Os funcionários podem levar três por dia para casa, com um abatimento no salário. A maior parte o faz e tenta vender os puros na rua, “clandestinamente”, aos turistas.
Durante nossa caminhada os alto-falantes espalhados pelo prédio não param nem por um minuto. Dá até uma certa irritação, que se desfaz quando se descobre a sua função. O que está sendo lido é uma novela, um livro, elegido entre vários pelos funcionários. Um senhor, sentado em uma cadeira sobre um palco fica ali, interpretando o texto do romance para distrair a quem está ocupado trabalhando. “El es muy respectado por los demás”, diz a guia. Mas não é trabalho de um homem só e nem só de leitura de livros. Pela manhã, durante 45 ou 50 minutos, alguém também faz a leitura do jornal do dia, para que todos estejam informados, tarefa repetida à tarde.
Sempre há alguém de bom humor para puxar assunto, como uma das funcionárias que enrola os habanos e que, ao descobrir, espantada, que eu sou brasileiro – achou que eu fosse alemão ou suíço – me pediu mais de uma vez para que eu a levasse para o Brasil. “Me encantan las playas Brasileñas”, argumentou. “Pero playas tienen aqui”, respondi. “Las playas brasileñas son más hermosas. Y quiero bailar la samba”, completou. Quando eu já estaba de saída ela me disse que ficaria me esperando (risos).

Brasil-il-il-il
Quando se entra a um mercadinho cubano, a impressão é de que está faltando alguma coisa. E é abundância, certamente. As coisas são ofertadas mas em pequenos volumes. E me arrisco a dizer que desse pequeno volume, pelo menos 50% é de produtos brasileiros. Bolachas, pães, manteiga, carne, shampoo, enfim, um bom número de produtos leva o carimbo Made in Brazil.
Mas não é esse o produto nacional que faz a cabeça dos cubanos. Aqui, sucesso mesmo são as novelas brasileiras. Se no nosso País já é terrível agüentar as longas tramas, que podem chegar a quatro, cinco meses, imagine aqui, em que elas são transmitidas somente três vezes por semana. Duram um ano...O engraçado é que não há intervalos comerciais, então o programa passa voando. No momento está passando Páginas da Vida. À arde também há uma novela brasileira, mas é um “Vale a pena ver de novo”.
Além disso, como em que qualquer canto do planeta, há dois temas que, infelizmente, perseguem qualquer um que se define como tupiniquim: futebol e carnaval. Em relação ao primeiro, adoram dizer que somos os melhores do mundo, citam vários nomes de jogadores, mas especialmente os de Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Aqui, o futebol ainda perde longe para o baseball em popularidade, mas está crescendo. Há transmissões ao vivo do campeonato nacional, bem como de jogos internacionais. Fiquei sabendo o resultado do amistoso entre Brasil x Itália por meio de um sujeito que me parou na rua ao ver a camiseta da seleção de vôlei do Brasil. Disse que sempre vê os jogos da seleção, seja no gramado, seja nas quadras.
Sobre nossa festa popular, não sabem muito. Limitam-se a dizer que é o melhor do mundo e que gostariam de ver de perto mulatas sambando. Aqui, carnaval só rola em Julho.
Outro assunto que surgiu algumas vezes foi Lula. Os poucos que falam do nosso presidente o fazem com admiração e ressaltam o fato de que nossos países mantêm boas relações. No dia seguinte à minha chegada peguei uma carona-remunerada com um senhor que sem cerimônia deixou o trabalho para levar-me onde eu precisava. No caminho, disse que as relações entre Cuba e Brasil são ótimas, que somos países irmão e que muitos brasileiros estudam medicina ali. Outro me parou numa lancheria para dizer que amava samba e que o que aproxima nossos povos é a alegria de viver. Ainda que não tenhamos tantos motivos assim para sorrir (nós, entenda-se, principalmente, os brasileiros), ele pode estar certo.

Universidade
Boa parte da primeira semana passei na Universidade de Havana. Foi uma cagada, diga-se. Cheguei em busca da professora Francisca Lopez, que era meu contato. Minha intenção era saber se havia a possibilidade de ingressar no Mestrado. Por fim, o mestrado em Estudos Interdisciplinares da América Latina e do Caribe não foi aberto e possivelmente não será mais. Mas me ofereceram outro, de História Contemporânea. A resposta definitiva, deles e minha ficou para o dia seguinte. Fui tomado por um certo pânico. Surgiram uma série de dúvidas na minha cabeça até que, apoiado por amigos, decidi por ficar. Decisão que durou apenas 24 horas, até fazer todas as contas e perceber que, sem ingresso nenhuma de grana, já que aqui trabalhar é quase impossível para estrangeiros, e graças ao impacto dessa merda de crise mundial – em relação a qual não tivemos responsabilidade nenhuma. mas afundamos junto - não posso ficar. Entre setembro do ano passado, quando estava inicialmente prevista a minha inda e agora, o dólar subiu 40%. Se alguém me garantisse que ficaria assim, que não subiria mais, assinava a matrícula. Mas como essa pessoa não existe e não sou mais filho de ficar pedindo dinheiro, empacotei o sonho e o enfiei na mala. O bonde passou e acho que, desse vez, definitivamente.
Santiago
A viagem de Havana a Santiago dura 14 horas. O bom é que ônibus atravessa Cuba, quase de ponta-a-ponta, durante a noite, o que torna o trajeto um pouco menos penoso. No ônibus, conheci um espanhol muito gente boa, Adan, que vive em Valladolid. O cara tem a vida feita. Não trabalha. Tem um baita apartamento que aluga e com a renda mantém seus vícios, que são os de viajar e fazer arte (que vão das plásticas aos documentários – disse que tem um novo filme sobre uma comunidade do Senegal de que vou gostar). Buenas, rendeu um bom papo e um a troca de endereços e promessas de visitas mútuas para continuar a prosa.
Sobre Santiago de Cuba, o que posso dizer é o seguinte: pegue toda a amabilidade dos cubanos de Havana e toda a beleza da capital, multiplique por dois, e aí uma idéia do que é a cidade. Um espetáculo. Também com o mesmo ar decaído, mas com um povo extremamente simpático. É comum te abordarem na rua. É preciso ficar com o pé um pouco atrás, porque os jineteros atuam com força aqui. Mas a maior parte das pessoas quer mesmo é conversar e, se possível, ajudar. Por exemplo, eu estava num orelhão tentando ligar para Havana, para avisar a velhinha, Arely, de que não ia poder estudar por aqui e que assim não reservasse mais o apartamento que eu ia alugar. Não conseguia de jeito nenhum. Vieram duas pessoas me ajudar, e como com o cartão não estava dando certo, um me deu dinheiro! Sim, eu não tinha moeda local e o cara me deu dinheiro para eu telefonar.
Quanto aos jineteros, não é nada que a paciência para dizer diversas vezes a palavra “não” deixe resolver.


Raul
Sobre prostituição rolou um longo papo com Raul, um motorista de táxi ilegal que me levou à Sierra Maestra (ele vai reaparecer mais adiante). O cara é uma figuraça e o assunto surgiu quando ele me contava suas aventuras pela Rússia, onde viveu por sete anos e, segundo ele mesmo, se divertiu aos montes. A curiosidade dele era saber quanto custa uma prostituta no Brasil. E emendou a pergunta sobre se eu já tinha achado uma “nobia cubana”. Eu disse que não e que não pensava no assunto no momento.
Aí veio toda uma aula de como conquistar as cubanas na “Casa da Trova”. Digamos que não aprendi nenhuma grande lição, mas mais sobre como funciona o esquema aqui. Bem, os turistas ao ingressarem nos hotéis ou casas particulares fazem seu registro e, sempre que levam alguém ao apartamento, precisam dar os dados das pessoas também. Os caras nas casas e hotéis cobram mesmo a identificação, porque pode sobrar para eles, principalmente se a mulher for menor de idade. Se em um período de poucos meses uma mesma mulher (ou homem) é registrada(o) na companhia de mais de um estrangeiro, precisa prestar esclarecimentos à polícia. Se continua, a pena vai de multa à cadeia, e o dono do estabelecimento que não registra os hóspedes pode acabar inclusive no meio da rua, sem casa ou negócio. Ou seja, deve haver fidelidade ao companheiro eventual. Um mesmo par pode registrar-se um milhão de vezes, sem qualquer problema.
Sobre as mulheres e homens que vão atrás dos estrangeiros, Raul garante que existe uma boa parte que não está interessada em fazer programa, mas em criar um relacionamento. Mas os interesses dos turistas normalmente são outros...os italianos por exemplo, tem uma reputação que não é das melhores aqui. Vêm única e exclusivamente pelo sexo.

Encontrei Jesus
Quando cheguei ao terminal da Viazul, em Havana, para pegar o ônibus a Santiago, a senhora que vende os bilhetes me perguntou se eu já tinha onde ficar. Disse que não e ela se ofereceu para arrumar alojamento para mim. Aqui as coisas funcionam assim. Sempre há alguém que conhece outro alguém que pode ajudar. E fiz uma ótima escolha ao aceitar a oferta.
Cheguei em Santiago e Jesus estava me esperando com um cartaz. Junto com ele, um filho adotivo, Gilberto, que é músico. O carro é um jipe que estão reformando gradualmente. No dia anterior haviam colocado os vidros e trocado o motor por um novo, tirado de um Lada Niva. Tá ficando belezura e a cada dia o incrementam um pouco mais. Como não há uma oficina autorizada, se recorre aos vizinhos. Essa é outra característica cubana: todo mundo sabe um pouco de tudo, de carpintaria, de eletricidade e, é claro, de mecânica. No dia anterior ao em que saí da casa deles, haviam instalado um alarme para quando engatam a ré, que simplesmente acordava a vizinhança inteira...
A casa da família é adorável, cheia de cômodos, sendo que o meu ficava num terraço. Baita quarto e a comida que servem na casa é disparado a melhor que desfrutei em Cuba. São todos muito amáveis, brincalhões, faladores. Marisol, a esposa, estava lesionada, havia caído no dia anterior e andava com uma cinta para manter o corpo firme. Jesus é professor de História que largou a educação para se dedicar exclusivamente a receber hóspedes, no que está indo muito bem. A casa está sempre cheia. Durante minha estada conheci Katrina, uma neozelandesa muito gente fina que está de férias e viajando por Cuba e México. Me deu boas dicas de lugares para conhecer.
Logo que cheguei Jesus passou todas as instruções. Incluindo as referentes a trazer mulheres para a casa. Era obrigatório que fosse maior de idade e que se registrasse Eu disse para que não se preocupasse com isso que não traria ninguém. Ficou feliz da vida e disse que era a melhor escolha.
No início da primeira noite em que estava em Santiago, nos convidaram (eu e Katrine) para irmos à sorveteria Copellia, a melhor da cidade, para degustar um helado. As filas, que eram muitas, impediram a estada por lá. Felizmente, o anfitrião possui um fornecedor direto da fábrica. Assim, optamos por voltar à casa e os refrescar com um sorvete conversando. Certamente, o melhor dessa estada foi o fato de que Jesus e Mari gostam de conversar e estão dispostos a responder tudo aquilo que lhes perguntam. E assim, com sorvete Copellia e rum (o pouco que restava no pequeno tonelzinho de madeiro secular que Jesus adquiriu de um marceneiro que trabalha na fábrica da bebida na cidade), o papo rolou solto.
Começou com uma conversa sobre os preços em Cuba, já que aleguei não poder estudar aqui em razão da crise internacional e da alta do dólar. E pedi se efetivamente não havia alguma maneira de trabalhar. “Morrerias de fome”, afirmou Jesus. Disse que ainda que conseguisse um trabalho, que é coisa rara para estrangeiro, receberia em moeda local, o que não daria para meu sustento. A única alternativa, segundo ele, é encontrar uma grande companhia estrangeira com sede aqui e receber em dólares ou euros.
O anfitrião fez comparativos entre o período que antecedeu o colapso soviético e hoje. A inflação, nos últimos anos foi galopante para os cubanos. Se em 1989, era possível ir a um restaurante com a família e satisfazer a todos com uns 30 pesos, hoje, o valor chega a 250. O mesmo vale para as bebidas, que subiram vertiginosamente. E há uma certa confusão com relação à moeda, já que algumas coisas,como o óleo de cozinha, por exemplo, só podem ser compradas com os CUCs. A cesta básica ofertada pelo governo a todas as famílias, hoje, é suficiente para aproximadamente duas semanas do mês. Para o resto do período, é preciso desembolsar os salários que, como em qualquer parte do mundo, cresceram bem menos que os preços.
Diante disso, não podia deixar de perguntar se o povo sentia orgulho da revolução ou era propaganda do governo. A resposta foi a de que o povo não quer mudança de governo e nem de regime. Quer é que se resolvam os problemas que existem. Mas isso está demorando um pouco em razão das dificuldades econômicas enfrentadas por Cuba. Assim, evidentemente surgem os desgostoso, mas, segundo Jesus, a maior parte é completamente ignorante sobre o que se passa em países vizinhos, como a Guatemala, em que a pobreza é extrema. A maior parte dos cubanos acredita que a vida no capitalismo é uma maravilha e não reconhece alguns benefícios que o governo cubano concede e que não se encontra em muitas partes do mundo, como a saúde e a educação.

Que inveja
A saúde aqui é realmente algo de deixar qualquer primeiro mundista de queixo caído. Há um médico policlínico para cada 120 casas. Ele é quem presta os primeiros atendimentos, quando necessário. O povo tem algumas obrigações, como, por exemplo, as mulheres a de fazer exames ginecológicos anualmente, sem falta. Esse policlínico, se identificar alguma necessidade especial de atendimento, dá uma ordem de consulta ao paciente, para que durante a mesma semana ele seja atendido por um especialista. A cada dia da semana, uma especialidade é abordada. Todo atendimento, todos os medicamentos e toda a internação, caso seja necessário, são gratuitos.
Mulheres grávidas recebem atenção especial. Todos os meses recebem a visita de um médico ou vão a ele para tomar medidas, peso, etc. Também recebem do governo um kit especial com suplementos vitamínicos e minerais durante toda a gestação. Em casos de haver alguma probabilidade de aborto, são atendidas em casa, dispensadas do trabalho e, se for preciso, podem ficar internadas durante os nove meses de gravidez em hospitais criados especialmente para essa finalidade. São realizados todos os tipos de exame para identificar qualquer anomalia no feto. Se o problema é detectado, a gestante é consultada sobre se quer ou não fazer um aborto. Se diz que não, o governo a encaminha para acompanhamento psicológico, onde vai receber todo o tipo de instrução sobre as dificuldades de criar uma criança com problemas e, assim, fica ainda aberta a possibilidade de decidir por não ter o filho. A conseqüência é que, realmente, não se vê praticamente deficientes físicos ou mentais em Cuba.
Com relação à Aids, a doença também não é um problema grande no país. Há constantes anúncios e programas educativos na televisão, instruindo sobre o uso de preservativos. Jesus garante que são raríssimos os casos de jovens cubanos que não se protegem hoje em dia, e que os casos não devem passar de 3 por mil (vou checar). A essa informação pública, soma-se ainda o trabalho nas escolas, em que a educação sexual também está presente no currículo. Como o acompanhamento à saúde é constante, o governo possui um mapeamento preciso do número de casos, informando inclusive a quantidade de infectados por cidade do país.

Educação
Os analfabetos praticamente inexistem em Cuba. E a grande parte dos cubanos tem 12 anos de estudo. O ingresso na universidade depende do desempenho no que chama de preparatório e também de atividades paralelas, como engajamento em movimentos sociais e políticos. Os de melhor desempenho e de melhor “conduta” têm mais chances de entrar no curso que desejam. Normalmente, o estudante recebe uma lista com dez opções de graduação e dentre estas seleciona as quatro que mais interessam a ele. Há também o ensino técnico como opção e os que estão mais atrasados normalmente são encaminhados ao exército onde também recebem instrução e preparação para seguirem carreiras graduadas. “Desajustados, ou seja, jovens que abandonam o estudo e enveredam por outros caminhos, como alcoolismo, podem receber inclusive dinheiro do governo para voltarem às salas de aula. A maior parte dos cursos universitários tem duração de cinco ou seis anos.
Ao concluírem a graduação, os estudantes têm uma obrigação social: trabalhar para revolução, onde o governo desejar, durante dois ou três anos. Ou seja, se são necessários engenheiros para atuar em construção de recursos fundamentas ao país em Santiago, são deslocados para lá. O trabalho social inclui, ainda, o voluntariado em casos de furacões ou outros desastres, em que os jovens são acionados a contribuir para a solução dos problemas.
Taí uma boa medida que podia ser adotada pelo governo brasileiro. Estudou em federal, tem de trabalhar elo benefício comum por pelo menos dois anos. Acho que ajudaria a resolver, e muito, o problema de cotas, já que certamente ia ter muita gente preferindo pagar uma universidade particular a trabalhar para o governo em algum canto remoto do País.

“Morrir por la patria es vivir”
A frase faz parte do hino cubano e foi usada por Fidel para finalizar um texto escrito por ele no dia em que Fulgêncio Batisa deu o golpe de Estado em 1952. Foi em Santiago que Castro cresceu e começou a mudar a história de Cuba, com o ataque ao Quartel de Moncada, em 26 de Julio de 1953. Data que depois deu nome ao movimento guerrilheiro comandado por ele e que até hoje é um símbolo nacional. A tentativa de tomar o Quartel de Moncada é o fracasso que deu certo.
A data do ataque não foi escolhida à toa. Por aqui o carnaval é celebrado na segunda quinzena de julho e os jovens rebeldes a elegeram justamente porque o clima seria de distração. A cagada da ação foram os sapatos. Sim, foram os sapatos civis utilizados pelos revoltosos que os denunciaram quando, utilizando uniformes militares, começaram a infiltrar-se no quartel. O alarme foi dado e o fator surpresa, fundamental para o sucesso da ação, foi perdido. No confronto, diz-se, morreram apenas seis partidários do comandante, mas nas horas que se seguiram, o número passou de 50. Os jovens capturados foram torturados e assassinados. As fotos são de arrepiar, principalmente as daqueles que tiveram os olhos extraídos.
Os governistas, para justificar as mortes, espalharam os corpos pelo pátio do quartel e ao lado de cada um puseram um fuzil. Para completar o cenário, dispararam várias vezes contra as paredes do prédio e alegaram que os rebeldes não haviam dado outra opção que não a da troca de balas. O engraçado – triste, na verdade - é que vários uniformes de jovens mortos estão expostos. E nenhum apresenta perfurações de bala.
Fidel acabou preso uma semana depois, apesar de alguns jornais terem noticiado que havia morrido em combate. O oficial que o prendeu não o levou ao Quartel de Moncada, mas a um posto policial, motivo pelo qual o futuro Comandante-em-chefe se safou da morte e o militar acabou condenado a 10 anos de prisão.
Fidel fez sua própria defesa diante do tribunal, com o famoso discurso “A história me absorverá”. Vale a pena lembrar: “Condenadme, la historia me absolvira”.
Como todos sabem, Castro saiu 20 meses depois da prisão, ainda que inicialmente condenado 15 anos de cárcere. As pressões populares fizeram Fulgêncio pensar melhor. Ou pelo menos ele achava que era melhor. Castro foi para o México, fez um tour pelos Estados Unidos arrecadando fundos com cubanos que haviam fugido da Ilha, comprou o Granma, armas e, em 1956, voltou. Dessa vez para triunfar. Viva Fidel!

Bayamo
De Santiago tomei um ônibus a Bayamo. Viagem rápida, de três horas. Fui para a casa de Luiz e Amarilis, recomendada por amigos dos meus hóspedes anteriores. A casa deles é uma preciosidade de tão bem arrumada e a história para que chegasse a esse status, segundo o próprio dono, daria para preencher uma bíblia. Pelo pouco que fiquei sabendo, ele não exagerou.
Sobre a casa, em síntese: pertencia a dois bêbados que a destruíram e depois foi trocada pela casinha pequena, mas muito conservada de Luiz (é preciso que o governo aceite a troca, baseada na avaliação dos imóveis); eles dormiram durante dois anos no piso da cozinha para deixar os quartos livres para hóspedes; a casa foi seno ajeitada aos poucos e achavam que não iam conseguir repará-la por inteiro,até que um dia um rico porto-riquenho apareceu e, sem pedir nada em troca, deu 2 mil dólares para que concluíssem a reforma.
Luiz e Amarilis, antes de se tornarem arrendadores eram, ambos, engenheiros agrônomos, profissão do meu pai. Amarilis trabalhava numa fazenda do governo enquanto Luiz era um bastante respeitado entomologista. A vida mudou em 1994, no auge do Período Especial. À época, o governo cubano disse que quem queria deixar o país e ir aos Estados Unidos deveria comunicar esse desejo. E Luiz o fez. No dia seguinte, estava proibido de ingressar no seu lugar de trabalho, por ser um inimigo da pátria. O pior é que foi um impulso, já que pouco tempo depois ele tinha certeza de que queria ficar. Até recebeu um convite para voltar num subemprego, mas disse que por orgulho não aceitou. Assim, começou a produzir doces para vender na rua e depois postou nos picolés (240 por dia, segundo ele). Até que, por fim, decidiu ser arrendador e conseguiu a licença. Esse é um outro grande capítulo para a Bíblia de José, certamente. Mas confesso que me emocionei em ver o quanto ele sentia estar longe do seu antigo trabalho e dos experimentos que realizava.

Um adendo
Aqui, as residências qualificadas para receber estrangeiros possuem nas portas um símbolo azul. São duas setas, uma maior apontando pra cima e uma outra para baixo, que indicam sua aptidão como “arrendadores”.
O processo para ser arrendador não é simples. Primeiro é preciso entrar com um pedido num órgão do governo que se dedica a isso. Em seguida, a residência é inspecionada para saber se há efetivamente, condições de receber visitantes. Depois é necessário apresentar um atestado de não-antecedentes criminais de todas as pessoas com mais de 18 anos que vivam na casa. A última etapa é feita novamente pelo governo e consiste em uma visita a vizinhos para buscar informações sobre sua conduta, relacionamento com os outros moradores, casos de alcoolismo ou drogas, etc. Jesus ( o de Santiago) disse que optar por ser arrendador não é uma coisa simples, também, porque implica o pagamento de diversas taxas ao governo. Uma delas, mensal e fixa, é de 230 CUCs (há quem diga 150 CUC), independentemente do desempenho dos negócios. Segundo ele, as altas taxas não tem como único objetivo alimentar os cofres do governo, mas também evitar a acumulação de riqueza por parte de poucos.

De volta a Bayamo
Bem, diante dos fatos que narrei antes, não era de estranhar que Luiz e Amarilis tenham críticas ao regime. Ele fez uma relação de queixas sobre coisas que acredita terem de mudar, principalmente para que Cuba avance. Reclamou dos impostos, reclamou que quase tudo que se faz é ilegal (sobre isso, leia adiante), que é necessário que ocorra uma flexibilização em algumas áreas e idéias, etc. “O problema é que o governo nos mostra uma xícara e diz que é preta, mas todos nós estamos vendo que é vermelha, entende? Não adianta me falar uma coisa se eu estou vendo outra. O povo quer ser recompensado pelo seu trabalho, quer ver as coisas melhorarem, o ideal sozinho já não vale”.
Diante das críticas, o interrompi. “Desculpe, mas quando Fidel morrer, você vai festejar ou chorar?” Segundos de silêncio. “Llorar”. E aí a conversa engatou por outro rumo. “Aun que tengamos problema, Fidel siempre fue un hombre que lucho por un proyecto, por Cuba y por los Cubanos”. No dia em que anunciaram que Fidel estava muito mal de saúde, ele disse ter ficado o tempo todo com um nó na garganta.
Por mais críticas que possa ter em relação ao governo, afirmou saber que é um privilegiado em muitos aspectos e acredita que Cuba dá exemplo inclusive a muitos países desenvolvidos. “Não é fácil para uma pessoa de outro país imaginar seu governo mandando um professor atender um aluno, um único aluno, que more na Sierra Maestra ou em qualquer parte de Cuba, para dar aulas particulares a ele, totalmente bancado pelo Estado. E isso acontece aqui”, disse. Me arrepiei inteiro quando ele disse isso. Ele percebeu minha emoção e disse que a entendia perfeitamente, porque a ele isso também tocava muito. Falou dos seus filhos (uma moça de 17 e um rapaz de 16) que estão numa escola interna da região, e de como eles, ao contrário de muitos outros jovens latinoamericanos, estão tendo a oportunidade de aprender com qualidade e poderão ser, por exemplo, médicos, o que custa muito em outras nações. Também elogiou a rigidez do regime em relação à exigência de que as crianças estejam na escola. Aqui, deixar o filho fora da sala de aula dá cadeia mesmo.
Assim como deixar de cumprir com outras obrigações, como levar as crianças para vacinar ou, ainda, o já mencionado acompanhamento às gestantes. “Se uma mulher grávida falta a uma consulta, no mesmo dia tem alguém batendo aporta dela para buscá-la. Aqui em Cuba, se você precisar viver uma ida inteira ligado a aparelhos num hospital, vai fazê-lo e ninguém, terá de pagar um centavo por isso”, descreve.
Reforçou, ainda , que uma cisa que aparentemente os cubanos não perderão é o sentimento de solidariedade. “Aqui se alguém precisa de alguma coisa é ajudado pelos vizinhos, pelo bairro. Se eu precisar de um telefone para ligar seja lá para onde for, certamente alguém vai surgir para me socorrer e resolver o problema”.

Sierra Maesta
Bayamo é a melhor opção de parada para quem quer conhecer o lugar em que os barbudos se refugiaram e de onde comandaram a revolução Contra Batista. Hoje, a área é um Parque Nacional, e nas proximidades há outros. Um deles – não pude visitar porque me faltava tempo ($) –, o Parque Nacional do Desembarque do Granma, que foi onde os guerrilheiros atracaram o barco que dá nome ao lugar e tiveram o primeiro embate com os governistas. Neste conflito morreram 70 pessoas do exército que Castro trouxe na embarcação - que na verdade tinha capacidade só para 25. Conta a lenda que ao reagruparem-se os poucos sobreviventes, Fidel disse: “se somos 12, a revolução está ganha.”
Esse fracasso inicial é explicado pelo atraso na chegada do Granma a Cuba, motivada pelo mal tempo e pela decisão de Fidel de regressar com o navio para encontrar um dos combatentes que havia caído no mar. Com esses problemas, os ataques a postos policiais em Santiago, que serviriam para distrair a atenção dos militares, acabaram servindo é para alertá-los sobre o que estava acontecendo.
Os sobreviventes seguiram para a Sierra, escolhida como reduto justamente em razão da dificuldade para o acesso por parte dos militares e a crença de que os camponeses, que viviam em uma miséria de dar medo, apoiariam a causa. Outros fatores que interferiram na decisão foi o do que os governistas necessitariam de tempo para enviar suas tropas, que concentravam-se em Havana, e o bom suprimento de água no alto das montanhas, o que impediria o governo de contaminar o suprimento.
Hoje, o acesso à Sierra Maestra é pavimentado. O problema é que os meios de transporte até ela praticamente inexistem, obrigado quem quiser chegar ao local a pagar caro por táxi, ingresso e guia (que acompanha só no último trecho). Em Santo Domingo, um pequenino povoado que fica no pé da Sierra Maestra, é preciso desembarcar do táxi para comprar a entrada e receber a indicação de quem será o acompanhante. Os primeiros cinco quilômetros morro acima podem ser feitos a pé ou de carro. Pedi para ir caminhando, mas o guia suplicou para que fossemos de táxi (que precisa obrigatoriamente ter tração 4 x 4). Como não havia nenhum ficamos um tempo esperando, até que surgiu um caminhão russo, cheio de gente na caçamba. Era o pessoal da Rádio Rebelde, de Havana, que estava ali para desfrutar um prêmio concedido aos melhores funcionários do ano: conhecer o local em que foi fundada a rádio, pelos guerrilheiros, em 24 de fevereiro de 1958. Os barbudos a utilizaram para difundir as conquistas revolucionárias, instrumento fundamental para dar confiança ao povo e ganhar a sua simpatia. Deu certo. Afinal, os camponeses da região aderiram de forma massiva ao movimento e serviram como vigilantes que alertavam sobre a chegada de inimigos.
Na carroceria do caminhão subimos cinco quilômetros. Em alguns trechos você não sabe se aprecia a paisagem ou se borra de medo, já que as subidas são tão íngremes que parece impossível que aquela baita máquina, carregada de gente, vai dar conta. Mas subiu. Da parada, são mais três quilômetros caminhando pela mata até chegar a área em que se assentaram os combatentes.
Nessa parte do caminho, para minha satisfação – e mais ainda do pessoal da rádio – encontramos um Tocororo, a ave nacional de Cuba, que é coisa rara de se ver. Também proseei bastante com algumas das jornalistas da rádio que, apesar das queixas sobre o salário, se mostraram bastante satisfeitas por trabalharem nela e serem adeptas das causas revolucionárias. Junto estava o “Caminante de la Radio Rebelde”, um cidadão que, no ano passado, atravessou Cuba caminhando só para ir às comemoração pelo cinqüentenário da emissora. Apesar de mala, o sujeito era interessante por conhecer quase todos os programas da rádio nos últimos 35 anos. Para ter uma idéia, ele cantava jingles e vinhetas que ninguém mais conhece.
A subida é sossegada e bonita. Foram feitas algumas paradas porque havia gente com mais idade e alguns com mais peso. Quando se chega a uma altura de uns 900 metros se vê uma pequena cabana, com telhado de folhas secas de coqueiros. Foi a primeira montada pelos guerrilheiros e que, depois de ser o quartel-general principal, serviu para diversas funções, de cozinha a postos de controle. Mais acima, em um lugar com vistas deslumbrantes, está o Museu a Sierra, uma pequenina casa de madeira que é a única não-original que há por aqui. No seu interior, objetos que pertenceram aos guerrilheiros, como as máquinas de escrever com que Fidel escrevia sua correspondência e discursos, fotos e textos explicativos, além de uma maquete de toda a Sierra.
Seguindo pelo caminho, uns poucos passos adiante, esta a área que serviu como cemitério durante os anos de combate. Agora, apenas um corpo resta ali, o do general Rodriguez que, antes de morrer pediu para permanecer na Sierra Maestra se caísse em combate. Os demais corpos, ao final da revolução, foram trasladados.
Conhecedo a casa em que Fidel morava nos períodos em que estava na Sierra (não eram muito longos, já que ia para os combates), as outras instalações, como a cozinha, o posto de controle, etc.. dá para ter uma idéia do tamanho da entrega desses homens à causa revolucionária. E de quão bem se prepararam para a luta. No ponto mais alto que alcançamos, ainda estão os transmissores e a antena da Rádio Rebelde.
Meu camarada Diego, mais conhecido como MC Jeléia (com J mesmo), me perguntou qual a sensação de estar em um lugar como a Sierra Maestra. Fiquei pensando nisso por dias e acho que a melhor palavra para definir é orgulho. Porque ali não importava cor, raça, classe social ou qualquer coisa. Lutava quem queria a revolução e, principalmente, justiça social. Ou seja, foi um dos raros momentos da história em que realmente, como dizem os comunistas, foi formado um “coletivo”.


O irmão
Ainda que Fidel seja um Deus para a maior parte dos cubanos, seu irmão, Raul, é visto com bons olhos pela maior parte das pessoas, que acreditam que ele esteja com o pulso mais firme do que o velho barbudo que tanto admiro. No ano passado, quando estive em Cuba, uma coisa que me impressionou negativamente foi a grande oferta de drogas que existia pelas ruas. Era um tal de “do you want Charlie?”(cocaína) para todo o lado. E estranhei que desta vez, ainda que tenham me oferecido umas duas ou três vezes, quase ninguém sugeriu uma carreira. Segundo a dona Estilita (vai aparecer adiante), no ano passado o Raul foi pros meios de comunicação e avisou que em 72 horas acabava a palhaçada. E aparentemente o homem não tava de brincadeira. Mesmo os problemas pequenos e esporádicos que começavam a surgir, como os de furtos e roubos entre cubanos, voltaram quase à estaca zero.


“O problema de Cuba é que, do momento em que levantamos, até o momento em que vamos dormir, estamos cometendo irregularidades.”
A frase, dita pelo taxista – ilegal, é claro - Raul me chocou um pouco quando ouvi, mas foi confirmada inclusive por gente do Partido Comunista, que admitiu que o pessoal em Cuba “usa a esquerda”, expressão que quer dizer, no caso, a mão que normalmente descansa, no trabalho paralelo, para buscar mais recursos e ampliar a renda. De fato, é difícil viver sem cometer irregularidades, principalmente porque o governo mantém algumas regras que beiram à estupidez. Exemplos? Você não pode ir na casa de um camponês e comprar uma alface, frutas e carne. Isso só pode ser adquirido em lojas do governo. E é fundamental manter a nota fiscal da compra consigo. Porque se você está transitando por uma estrada e a polícia te pára com a mercadoria, não só a comida, mas também o veículo, que são apreendidos. Outro: mesmo que meu melhor amigo seja cubano, só poderei ficar hospedado na casa dele se pagar uma taxa para isso. Não posso nem mesmo tomar uma carona com ele sem ir antes à imigração e pagar para ter esse direito.
Assim, plantando burocracia, o que se colhe é fraude. Funcionários do Estado vendem a gasolina que tiram dos caminhões públicos, gente que trabalha nas fábricas de rum desviam litros de bebida diariamente para comercializar com os vizinhos, pessoas comercializam de tudo no mercado negro, etc.
Acredito que todos os desvios sejam reflexo também de outra queixa dos cubanos, o salário. O mais baixo gira em torno de 10 dólares ao mês. Os mais altos é o dos médicos e dos policiais (claro que políticos fogem à regra) que chega a passar dos US$ 25. Antes que alguém arranque os cabelos e comece a espalhar que isso é um horror, que é indigno, leia até o final.
Parece pouco mesmo. Ninguém viveria com isso no Brasil (se bem que há gente que ainda não vive com muito mais), mas em Cuba sim. Sem luxos, sem grandes comidas (a carne é o maior problema, especialmente a de rês), mas vive-se. Por exemplo, existe, ainda, a libreta, com que os cubanos, a cada início de mês, se encaminham aos mercados do governo para retirar a sua cuota de alimentos subsidiados. A “cesta básica”, segundo a maioria dos consultados, dá para uns quinze dias, e sai por 20 pesos cubanos nacionais, ou seja, algo como 80 centavos de dólar.
Para quem não sabe, os cubanos também não pagam impostos como IPTU, por exemplo. A casa ,na maior parte dos casos, tem dono e ele não paga nada e ainda pode se dar ao luxo de, caso exista algum problema, chamar alguém do Estado para reparar.
Some-se a isso o fato de que nenhum cubano paga qualquer centavo pela educação e pela saúde, e efetivamente se pode viver. O problema é que muitos estão deixando de trabalhar em conseqüência da baixa remuneração e buscando a vida nas ruas, jineteando (a maioria) ou fazendo somente bicos. Trabalho oficial não falta, como é confirmado por qualquer cidadão a que se pergunte. O que falta, para muitos, é realmente interesse no “coletivo”. Cresce uma sensação de que o Estado precisa tomar medidas logo para mudar a vida das pessoas. Ou faz isso, ou corre o risco de o barco ficar cada vez mais vazio. Afinal, foi o próprio Fidel quem disse que “revolución és cambiar todo lo que necesita ser cambiado”.
Rafael, taxista que me levou ao aeroporto para deixar Cuba, disse que o que frustra é que mesmo com uma ótima formação, no fim não é possível ficar na profissão que se quer, porque muitas pagam pouco. Ele, por exemplo, deixou a engenharia para ser, nessa ordem, combatente cubano na Angola, caminhoneiro e taxista. O Lada que dirige, da Cubataxi, pertence ao governo, qe fornece as peças e a manutenção, mas em troca exige que, diariamente, ele consiga 60 Cucs em corridas. Não me disse qual o percentual que fica com ele, mas se quiexou, alegando que preferia ter dinheiro para cuidar ele mesmo do carro, porque teria mais cuidado, afinal, seria seu. Não agüentei e disse: “mas ele é teu, só que também de todo mundo”. Não respondeu.

Campo
Na viagem de Santa Clara (vou falar da cidade adiante) a Havana, sentei ao lado de Alberto, professor de Economia da Universidade de Ciego de Avilla. Muito boa gente, bom papo. Elogiou o Brasil de cabo a rabo, deu argumentos econômicos para explicar os motivos que o levam a fazer isso e disparou um caminhão de perguntas. Algumas delas impossíveis de responder, como explicar os impostos no nosso País. No meio do papo, chamou minha atenção ao problema da baixa produção agropecuária cubana. No percurso entre as duas cidades (e isso se repete na maior parte do País), o que mais se vê são terrenos que poderiam ser produtivos, tomados por arbustos e ervas daninhas. De vez em quando esse vazios são interrompidos por plantações de cana, que impressionam pelo baixo tamanho dos pés, e por rebanhos, que também desanimam pela magreza (se bem que estamos no período seco).
Segundo meu amigo economista, para um país ter carne de rês suficiente, precisa de pelo menos duas cabeças por pessoa, no pior dos casos. Em Cuba, acredita (não sabia o dado oficial), o número não passe de 0,2 cabeças por pessoa. Aparentemente, diz ele, agora o governo está despertando para o tema que só ficou evidente – como evidente ficou o descaso com o setor agropecuário – no chamado Período Especial, que sucedeu ao fim da União Soviética. As medidas estão começando a surgir, ainda que um pouco incompletas. Por exemplo,o Estado está disposto a ceder terras a quem quiser produzir (pelo que averigüei, três hectares por pessoa), mas o problema é o incentivo para começar a produção, que inexiste. Ou seja, não vai ser de um dia pro outro que as coisas vão mudar. O fato de Cuba ser extremamente dependente de exportações ferra com a economia e com o poder de consumo do povo.


Trinidad
A Trinidad, cidade no centro-sul cubano, vou dedicar umas poucas linhas. Não que ela não seja linda, que o povo seja mala, nada disso. Mas é que, digamos, foi onde menos conheci gente e me diverti. Pontos positivos? O primeiro, a praia de Ancoa, que é fantástica. Na verdade não fui exatamente nela. Depois de caminhar uns 10 quilômetros indo, parei numa praia deserta que já estava pertinho das povoadas. Puta lugar lindo, água azul turquesa, profundidade mínima e o melhor, tudo só para o alemão feio aqui. Solito, tranquilito. Segundo, a cidade em si, que é simpática e Patrimônio da Humanidade, e o Vale do Engenho, que fica ali perto e foi o antigo reduto dos senhores do açúcar cubano. Alí tive uma primeira impressão das condições do campo em Cuba, o que no fundo é bom para ver que há o que melhorar. Terceiro, a comida feita pela Aneli, dona da casa em que fiquei, que era realmente de primeira. Quarto, ter encontrado o primeiro brasileiro perdido em Cuba, o Elias, de Brasília, com quem só consegui trocar umas poucas palavras porque ele já estava se preparando para pegar o ônibus a Havana e retornar a Brasil. Me reconheceu pela camiseta do Ratos de Porão.

I wanna rock´n´roll all night
Já havia passado por Santa Clara na viagem anterior, com meu irmão. Mas quis voltar para ir outra vez no Mausoléu do Che. Foi bom. Primeiro porque encontrei minhas amigas japonesas que conheci no México ali. Havíamos combinado de nos vermos em Havana, mas a casualidade nos reuniu antes.
O Mausoléu é lindo e tem umas coisas realmente inspiradoras, como a carta que Fidel escreveu quando trasladaram os ossos do Che para Cuba. Depois eu acrescento aqui um trecho da carta que o Fidel escreveu quando inauguraram o lugar.
Mas o ponto forte dessa parada foi Pedro, um cubano (haverá outro Pedro, brasileiro, adiante) que é mecânico, está sem muito trabalho e por isso vive de um pequeno salário do governo. Tornou-s e uma figura folclórica na cidade, tipo o Velho do Saco ou o Louco da Rodoviária. Eu tinha saído de casa só para dar uma volta e ele me abordou porque eu estava com uma camiseta de heavy metal. Perguntou se eu era roqueiro, eu disse que metaleiro, e aí ele colou. Declarou seu amor ao Led Zepppelin, ao ACDC, ao KISS e até fez um showzinho com uma guitarra de ar e um inglês inovador para eu ter certeza de que ele tava falado sério.
Contou sobre o dia em que o Sepultura esteve em santa Clara, ano passado, dando uma entrevista. Deu detalhes de como foi, a quantos metros ficou do scaras, enfim, uma figuraça, com bem lá seus 50 e poucos anos. Aí olhou para mim e perguntou se eu queria ir com ele num show que começava às 17h num centro cultural. Fomos. No caminho me contou da sua vida, da vez em que foi preso por estar acompanhando um estrangeiro e de como escutava rock escondido, de como demorou para o governo cubano abrir a mente, etc . Teve de sair lá pelas 18h45, para buscar um filho no colégio. Mas me fez um pedido. Uma camisa do Kiss. Vou corromper o regime e mandar a camiseta.
O centro cultural é bem legal. Simples, um monte de mesinhas um lugar que fizeram ser o palco (mas é no chão) e uma banda. Uma vez por mês o espaço é aberto para o metal e toca o conjunto escolhido pelo público neste intervalo de tempo. No dia, tocou a Azotobacter, uma banda que é considerada uma das melhores de Cubá. Realmente manda bem. Conheci neste dia, por meio do Pedro, o H., que é um dos organizadores dos shows na casa e também do festival da cidade, o mais tradicional de Cuba. Foi um papo massa, uma troca boa de informações e também alguns detalhes bons sobre a cena cubana de música pesada.
Há 10 anos, por exemplo, não era possível ser cabeludo em Cuba. Podia dar cana. E de fato, durante muito tempo, inclusive Beatles não se podia tocar. As bandas de metal cubanas, em sua maioria, destoam de outras partes da América latina por não expressarem mensagens políticas fortes. Não preciso explicar a razão, preciso? E aí perguntei se ele achava que os jovens cubanos têm orgulho da revolução. Disse que a sensação entre os jovens é de que a revolução que se conseguiu não foi a que se sonhou. Que o que eles querem é o direito de terem, por exemplo, sua própria loja, sem interferência do governo, poder fazer o que quiser com o dinheiro, etc. “Bem, poder fazer o que se bem entende com o dinheiro, abrir sua loja, ganhar dinheiro assim etc., é capitalismo”, argumentei. Ele concordou. E admitiu que a revolução tem muitas coisas boas e que sabe disso.
Aliás, muitos cbanos têm uma visão meio besta sobre o capitalismo. Continuam vendo um conto de fadas que não existe. Devem pensar que com 400 dólares o cara é rico nos Estados Unidos e, em busca dessa merreca (porque ao contrário do que acontece em Cuba, nos EUA, US$ 400 é uma merreca) se aventuram a cruzar o oceano e começar uma nova vida, mesmo em empregos degradantes. Como é o caso de um dos mais famosos médicos de Bayamo e de Cuba, que emigrou para os EUA, e somente oito anos depois conseguiu trabalhar num hospital. Mas como enfermeiro. E aí me contaram também de casos de gente que quer voltar. Isso fica difícil. O governo cubano classifica essas pessoas como desertoras e para que possam ser cidadãos outra vez, é um processo dificílimo.
Por isso, é preciso sempre dar uma pisada no freio quando começam os papos de liberdade com eles. Na maior parte dos casos, eles confundem liberdade com consumo. E aí é difícil para entenderem que um cara como eu, no Brasil, sou um privilegiado. Que se você precisa ir para um hospital público, corre o riso de morrer no corredor. Em suma, o pior quadro que vi de Cuba (evidentemente devem haver muitos e talvez algum pior) não é, nem de perto, pior que um brasileiro. Acho que os nosso ainda vem com a moldura do desespero.

Mas bah!
Estou eu transitando pelas ruas de Havana com minha camiseta do Partido dos Trabalhadores quando decido entrar numa livraria, ali na Cale Obispo, a principal de Havana Vieja. Tava olhando os títulos e os preços e um cara me perguntou se eu sou brasileiro: bingo. Tchê loco, encontrei um baita camarada para passar o resto dias, ainda que seja um mirinzinho que mal saiu das fraldas – tem só 22 anos o piá! – e por isso mesmo ainda torce para aquele time lá da Beira-Rio, em Porto Alegre, que, se não me engano, se chama Regional, ou coisa parecida.
O cara além de gente fina é admirador do Fidel. Não podia dar noutra que não uma boa camaradagem, regada a cervejas, cigarros e um falatório que não parou mais.De política a filosofias cujos conteúdos são fantásticos, porém impublicáveis, valeu a pena ter encontrado uma boa parceria para desbravar ainda mais Havana e a mentalidade dos cubanos. Foi no primeiro dia em que nos encontramos, e que fomos para um boteco na beira do Malecon, que conhecemos Lincha, ou, se preferir, Lázaro, o amante da novela Escrava Isaura e que abre o próximo capítulo.
“Se tudo é de todos, eu não quero um governo para me controlar e controlar o que eu tenho”
Lázaro foi chegando, até que pediu se podia sentar-se conosco. Sentou e dali não saiu mais. O papo começou com as novelas. Eu estava no banheiro quando isso aconteceu e na volta me perguntou – dizendo que Pedro já havia errado – qual a melhor de todos os tempos. Aqui, amigos, não titubeie. Pode mandar Escrava Isaura que o índice de acertos é altíssimo.O papo foi pro futebol, passou pelo carnaval e daí descambou para coisas mais interessantes (pelo menos para nós): a vida em Cuba.
Durante a conversa apareceu um cara, de 20 e poucos anos, e mostrou, na mesa, um canivete que queria vender. O tal do Lázaro ficou uma pistola. Mandou o sujeito sair dali ou chamaria a polícia. Disse que o cidadão devia estar louco, não podia estar pensando bem, porque podia pegar uma pena séria por andar com o canivete. Aqui é proibido portar qualquer objeto que possa ser utilizado para ferir outra pessoa. Se você vai num mercadinho comprar uma gilete para fazer a baba deve guardar a nota até chegar em casa, porque se um guarda abordar na rua, é preciso apresentá-la, para que ele saiba que você está transitando com ela somente porque a comprou há pouco tempo.
No começo, Lázaro parecia favorável à revolução, mas gradualmente foi mudando o discurso, até chegar ao ponto de dizer que o país é uma merda.Disse que a revolução fracassou e ele não tolera muito a figura burocrática do Estado. “Se tudo é de todos, eu não quero um governo para me controlar e controlar o que eu tenho”, argumenta. Reclamou muito da falta de liberdade relacionada a uma série de temas. Falou sobre Camilo Cienfuegos e sua morte (acidente de avião), dizendo que ela acontece, em verdade, porque Camilo não concordava com os rumos da revolução. Falou de Martí para argumenta que quem deveria ser realmente venerado – é que Martí tem suas frases e feitos lembrados em todos os cantos de Cuba – é Maceo, outro herói da independência, que ao morrer, tinha 39 marcas de bala no corpo.
A esta altura, estávamos mudando de bar, para um bem fuleiro. Voltando às liberdades, reclamou da perseguição que sofrem os cubanos. Disse que a aproximação a um estrangeiro pode ser o início de problemas. O governo quer controlar isso para evitar a ação dos jineteiros. Assim, quem é advertido duas vezes, na terceira vai em cana (perguntei sobre as cadeias aqui a Rafael, o taxista, e ele me disse que o sistema é bom, sem superlotação e que a maior parte dos detidos é por esse tipo de crime). Contou que na região de Miramar, onde se concentram as casas de embaixadores, cônsules e de políticos cubanos, onde, segundo ele, os cubanos podem ter problemas ao transitar – acho que é um pouco de exagero, porque cainhamos por lá e tinha uma porção de cubanos. A polícia foi outra queixa. Disse que os caras são uns tremendos tapados. Pelo que entendi sofrem da síndrome de “pequena autoridade”. Assim, param as pessoas por parar, perguntam por perguntar e normalmente não entendem as respostas. Um exemplo que o Lázaro deu: estava caminhando em Miramar quando foi parado pela polícia. O cara pediu os documentos, ele mostrou, e aí veio a pergunta: “O que você está fazendo aqui?”. Ele disse que, de sacanagem, respondeu; “Como assim, eu estou em Cuba!”. E as perguntas e respostas se repetiram algumas vezes até o pé-de-porco se enfezar e perguntar se Lázaro era palhaço. E ele continuou: “No, estoy em Cuba!”
No mesmo boteco em que tivemos essa conversa, enquanto os poucos gatos e gatas pingados que estavam nele bebiam seu rum, sua cerveja e dançavam salsa - uma cubana até me tirou para dançar, mas digamos que eu não correspondi às expectativas -, conhecemos Juan. É com ele que vou abrir a parte dois desse relato.

P.S. Há uma teoria em Cuba de que quem sabe dançar muito bem, trepa muito mal. Deve ser verdade! kuakuakua

quarta-feira, 4 de março de 2009

Na Venezuela

Já cheguei em Caracas. E devo retomar o blog em breve. Sai com o peito apertado de Cuba. Beijos e abraços

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Aqui manda el pueblo y el gobierno obedece

Pois bem , se aproxima a hora de deixar o México. Minha última etapa nessa terra é a região de Chiapas, onde se concentram os zapatistas. A frase que intitula essa postagem é vista em placas colocadas na entrada de todos aqueles municípios que se declaram autônomos e seguidores do movimento. A primeira vez que vi esse aviso, sobre a área zapatista, foi numa pequeníssima comunidade que fica entre a Cidade de Ocosingo e as ruínas de Toniná. Arrepiei inteiro. Lindo.

Fui atrás de informação sobre os melhores “caracóis” a serem visitados. Me recomendaram Morelia – quem recomendou foi a avó da Amanda, de quem falo mais tarde –, mas com a ressalva de que talvez não me recebessem. Outros sugeriram que eu fosse primeiro a Oventik, que é um grande centro zapatista e conhecido por ser o "centro zapatista para o mundo" e lugar em que celebram sempre o ano novo. Pois fui barrado na porta...Não tinha meu passaporte comigo, só as carteiras de identidade e jornalista, o que não foi suficiente para os encapuzados me deixarem passar. Como amanhã sigo viagem, esse contato fica para uma próxima. Na verdade, esse caracol em particular me desapontou um pouco. Quando busquei informações sobre ele, me disseram que era mais fácil eu ir com agências de turismo. Estranho! O capitalismo é uma merda mesmo. Mas isso não tira o brilhantismo da luta. Viva Zapata e essa gente que desde 1994 coloca pedras no sapato governista mexicano. Sua luta é simplesmete por seus direitos que são vergonhosamente esquecidos. Lutam,também, para que aquela velha máxima de que "a terra deve ser de quem trabalha nela" vigore.
Aliás, quando se chega ao estado de Chiapas não restam muitas dúvidas de que se trata do mais pobre do México. As viagens pelas estradinhas que cortam ou passam perto das localidades desvelam verdadeiras favelas e gente pobre, muito pobre. Estima-se que só metade dos indígenas chiapenses tenham acesso à água potável em casa e menos do que isso tenha saneamento básico. Educação? Sãoospiores do país. Ou seja, o quadro é feio mesmo.

Toniná
Logo depois que o ônibus iniciou as 12 horas de viagem entre Oaxaca e San Cristobal de Las Casas, de onde escrevo, uma guria cutucou o meu ombro. “Vas a San Cristobal?”. “Si”. “De onde eres?”. “Brasil”. "No creo". E a essa introdução - que se repete várias e várias vezes ao longo da viagem - seguem-se pelo menos oito horas de bom papo. Amanda tem 20 anos, estuda fisioterapia e é um doce de pessoa. Não gosta muito dos zapatistas, que tomaram as terras de seu pai. “Pero también no me desgustan”, arremata. Bueno, conheci tudo e mais um pouco sobre a cidade de San Cristobal pela guria, que um dia depois se ofereceu a ir comigo até Toniná para apresentar as ruínas.
O dia chuvoso não atrapalhou. Ela estava em Altamirano na casa da avó e foi me encontrar em Ocosingo, para onde me dirigi de ônibus. Dali, pegamos um colectivo hasta Toniná. As ruínas desse antigo reduto maia não são nem de perto as mais bonitas que vi, mas tem um charme. Principalmente em razão da sua forma construtiva (sempre morro acima) e das vistas que se podem ser apreciadas do alto dos templos. Toniná foi uma cidade cujos governantes tinham um grande fascínio bélico (principalmente os últimos). Isso está traduzido nos vários painéis que retratam os prisioneiros amarrados. Foi a cidade que derrotou por exemplo, a vizinha Palenque, além de vários outras. E provavelmente a última a “desaparecer” misteriosamente, como sempre aconteceu com esses povos.

San Cristobal
San Cristobal tem lá seu charme. Ruas estreitas, casas com estilo colonial para todos os lados e um frio que convida ao chocolate quente e à coberta. Caminhar por suas ruas é uma boa diversão, ainda mais que estamos na baixa temporada e não há tanta gente assim. Vale a pena, também, o Museu do Âmbar, produto que é uma verdadeira relíquia para os locais. Sim, âmbar com mosquitinho e tudo, como no filme Parque dos Dinossauros. Aliás, com insetos, as jóias ou enfeites custam bem mais do que sem eles. Existem sete cidades da região que são famosas por extraírem de minas essa seiva petrificada. Os trabalhadores exgtraem por mês, somente 1 quilo do produto. O grama vale de acordo coma qualidade da peça. A guia do museu disse que muitas famílias vivem pelo menos quatro meses do ano da extração do âmbar, ainda que ela seja extremamente perigosa. No resto do tempo, se dedicam à agricultura.
Outro lugar que vale a pena visitar é o Centro de Estudos da Medicina Maya, mantido por um grupo de pesquisadores interessados em assegurar a preservação do uso de medicinas naturais e ritualísticas dos povos indígenas. O lugar está longe de ser impressionante em termos de estrutura, mas para conhecimentos sobre hábitos regionais é parada obrigatória. E o vídeo do parto de um indiozinho deveria ser antecedido por um alerta para quem tem estômago fraco.

O verme
Pouco depois de escrever a postagem que antecede a esta sai com três israelenses, três suecas e uma australiana. Fomos para um bar. Como a porra do gusano está em falta no mercado porque não chovee não podia ir embora da região sem devorar um, trapaceei e acertei com o garçom que o verme do mezcal deveria cair no meu copo. Não teve dúvida. Lá veio o bicho e, claro, o devorei. Digamos que é como mezcal em forma de verme e com um pouquinho de pegamento.
Buenas, mas não foi se de verme que eu vivi em Oaxaca, a terra da boa comida mexicana. Comi o famoso mole negro, memelitas, chicharrones , quesadillas, tlayudas...enfim, um espetáculo.

Mas é isso queridos. Não sei se em Cuba terei acesso tão fácil ao computador e por isso, se acaso eu não escrever por um bom tempo, fica um forte abraço cheio de saudade.
Hasta siempre!

sábado, 31 de janeiro de 2009

De volta à estrada

Quando entrei no ônibus que leva da pequena Ocotlán à cidade de Oaxaca, onde estou hospedado, restava apenas aquele maldito banco que fica localizado exatamente onde está o eixo do ônibus e as rodas. Sentei na poltrona que ficava no corredor, porque as pernas não serviam. Em seguida, um senhor entrou no ônibus e viu o lugar vago. Fez cara de cu, mas não abriu a boca. Até que eu o cutuquei e perguntei se queria sentar-se. E aí sua feição já mudou. Ele sentou, meolhou e soltou um “thank you very much”. Respondi com um “por nada”. “Usted habla español?”. “Si, hablo”. E a partir daí a conversa foi uma delícia. Juan Hernandes (me mostrou até a identidade) trabalha na terra, em terras que não são tuas. “A terra não é de quem trabalha, é de quem tem dinheiro e manda os outros trabalharem”, descreveu. Tem nove filhos. Um deles está nos Estados Unidos, onde ganha a vida do jeito que pode. É professor de física, mas não conseguia emprego no México. Os outros todos estão estudando. “Siempre hice inversiones em los estúdios de mis hijos”, falou com orgulho. Não lembro o que cada um faz, mas sei que dois são veterinários e uma é professora.
Juan se queixou do país um bocado. Do governo Panista, principalmente. E disse que a repressão no sul do México é absurdamente forte. “Aqui nos matan como se estuviesen cortando las uñas. Nadie habla nada porque tiene miedo”, referindo-se á perseguição aos jovens e aos herdeiros de indígenas por parte de quem manda no país. Disse que o povo quer terra e, mais que isso, dinheiro para poder trabalhar a terra. Me disse que, ao me ver, pensou que eu era americano. “Hay gente buena em los Estados unidos, pero la mayor parte no me gusta”, disparou, antes de lamentar a parceria do seu país com o que fica ao norte. “Hoy nuestro presidente esta viajando para hablar sobre el masacre em la Palestina”. Nâo entende - assim como eu – como podem deixar Israel fazer o que faz. Ou melhor, entende – assim como eu: “porque reciben la ayuda y lãs armas de los Estados Unidos”. Antes de baixar d ônibus, me cumprimentou, desejou o melhor para minha família e para mim e disse para eu aproveitar em Cuba: “me usta mucho la política de Castro”.
Buenas, aqui em Oaxaca há manifestações pró-Palestina em todas as partes. Já haviam me dito isso – e se confirma que quanto mais ao sul eu for, mais gente engajada políticamente vou encontrar. Afinal, é nessa região que estão os estados mais pobres. É aqui que estão os zapatistas. Mas é aqui também que o exército e a polícia reprimem mais.

Adiós D.F.

Deixar a cidade do México para trás me doeu mais do que imaginava. No fim das cntas, fiz boas amizades no albergue, especialmente com as gurias que trabalhavam nele, assim como também com os japoneses na escola de espanhol. As primeiras providenciaram uns cartões postais do Zocalo, que sabiam, era a minha região preferida da cidade e escreveram mensagens que vou guardar pra sempre. Já os amigos japoneses me chamaram para um bar para beber. Tava muito engraçado, ainda mais que se emborracham logo.
O problema de ficar muitos dias sem escrever é que se esquece fácil do que ficou pra trás. Mas vou tentar recapitular um pouco. Buenas, fui a dois jogos de futebol. Um do Cruz Azul contra o Atlas. Massacre de 4 x 0 para os donos da casa. O outro do Pumas contra o Santos. Mísero 1 x 0 com golzinho de pênalti. Apesar do resultado, o bom mesmo foi o segundo, no Estádio Olímpico de 1968. O futebol deixa um pouco a desejar, mas a torcida é divertida e bem apaixonada. Os hábitos alimentares também são algo... Acho que já escrevi isso, mas repito: o esporte nac ional mexicano é comer. Caraca, onde você for vai encontrar comida, com certeza. E nos jogos não é diferente. Passa gente vendendo tudo quanto é tipo de comida. E é impressionante o quanto se come. Claro que tudo apimentado e, por isso, a cerveja é uma questão de tempo. No estádio do Pumas, elas vinham em verdadeiros baldes. Não é uma queixa, só uma contestação, afinal, não posso cuspir no copo em que bebi!
Oura coisa que fiz foi percorrer o bairro de Coyocán todinho. Já havia estado por lá, no Museu da Frida, mas não tinha dado ao bairro a atenção que todos me diziam que ele fazia por merecer. De fato, o lugar e bonito, acolhedor. Aproveitei para passar pela casa do Trostski. Mas não pude entrar, porque estava fechada.
Ah, também fui à Basílica de Guadalupe, que já supera o Vaticano em número de visitantes. O complexo formado pela nova e velha Basílicas, a Capilla Del Cerrito, o Templo Del Pocito e pela Capilla de los índios é muito bonito. Há ainda outras atrações, como um gigantesco relógio em que há apresentações da história das aparições da virgem e, ao seu redor outras marcações de tempo, como o calendário azteca. Muita gente entra no complexo religioso de joelhos e vai dessa forma até o interior do templo principal. No pátio, há de tudo, de dança folclórica a vendedores de chicharrones. O lugar é bonito, creio que quem vai ao México deve conhecê-lo, mas tenho certeza de que os “meu Deus” que eu dizia diante do que via tinha um sentido bem diferente daqueles que iam até ali por fé.

Tlatelolco

Em Tlatelolco está a Plaza de las Tres Culturas. Recebe esse nome porque numa área relativamente pequena, há prédios que representam três fases da história mexicana; o templo mexica de Tlatelolco, que foi uma cidade gêmea à de Tenochtitlán; o Templo de Santiago, construído pelos espanhóis com as pedras da antiga cidade azteca; e também prédios modernos. Mas talvez o lugar seja mais conhecido, hoje, pelo massacre de 1968, quando o governo mandou abrir fogo contra centenas de jovens manifestantes que faziam uma manifestação às vésperas da Olimpíada. Mais de 300 jovens morreram, ainda que as estatísticas oficiais apontem bem menos.
Teotihuacán

Os egípcios que me desculpem, mas Teotihuacán é fundamental. Situada 50 quilômetros longe da cidade do México, essa verdadeira relíquia impressiona pelo tamanho e pela beleza. Suas duas maiores estruturas são as pirâmides da lua e do sol, sendo a segunda a terceira clocad ano ranking mundial de pirâmides. Tudo é grandioso. A calçada dos mortos, que corta a cidade de um lado a outro deve ter bem uns 5o metros de largura e é cercada por antigos prédios onde chegaram a viver 250 mil pessoas. O Palácio de Tapantitla, que requer um fôlego extra do visitante porque está do lado de fora do parque, reserva o palácio Tlalocan, ou seja o Paraíso de Tláloc (que era o Deus da chuva). Ali estão preservadas pinturas impressiontes do deus e de hábitos como o jogo de pelota.

Top 5

Como fã do Alta Fidelidade, não podia deixar de eleger as cinco melhores coisas da estada na Cidade do México:
1. Teotihuacán
2. Zócalo: a praça principal da cidade é tudo de bom. Seja pela gente de todo o tipo, cor e tamanho que circula por ali, seja pelos exuberantes prédios que o rodeiam.
3. Bosque de Chapultepec: uma paixão dos locais, o Bosque é um dos principais destinos nos finais de semana e reúne alguns dos principais atrativos culturais da cidade em seu interior ou imediações.
4. Frida e Diego: ver as obras de Frida em sua casa ou nos museus de arte, bem como contemplar os fantásticos murais de Rivera é demais.
5. Gente: os mexicanos da capital são, ao mesmo tempo, mais fechados e mais abertos que os de outras partes. Como em todas as metrópoles, às vezes caminham como se não prestassem atenção a ninguém. Mas quando são abordados, sempre estão dispostos a ajudar, ainda que tenha um evidente problema de direção (sempre confirme com mais dois a informações que você pediu).

Oaxaca

Me falaram tanto de Oaxaca, que confesso que estou decepcionado. Só em um sentido não exageraram. A comida é muito boa. É a mais famosa do México. Cidade é bonita, cheia de prédios cloniais, com uma praça central belíssima, algumas igrejas interessantes. Mas nada tão espetacular.
Hoje me mandei para Monte Albán, onde estão as ruínas de uma antiga cidade Zapoteca e que é famosa pelos “Danzantes”, figuras gravadas nas paredes de um dos prédios e que são bastante peculiares. Inicialmente, em razão de sua disposição e do aparente “movimento” das imagens, pensou-se que estavam dançando. Mas atualmente se sabe que retratam prisioneiros de outras tribos que eram oferecidos aos deuses. Em muitas das figuras as genitálias estão mutiladas, o que significa que os órgãos sexuais eram cortados como oferta aos deuses ou para serem utilizados em rituais de fertilidade. O lugar é muito bonito, mas depois de conhecer outros mais bem conservados, o impacto fica menor..
Ontem fui a Ocotlán, cidadezinha que fica a uns 50 km daqui, porque havia mercado. As comunidades de toda região migram para lá para vender de tudo: galinha, bode, roupa, comida, artesanato...Comi uma deliciosa empanada de Chile Amarillo, provei e comprei mamey, uma fruta ótima que desconhecia. E também adquiri alguns famosos alebrijes, tipo de artesanato local. São bichos de madeira pintados de uma forma bastante original e colorida. Depois segui com o ônibus (aquele em que conheci o Juan) a San Bartolo, localidade famosa por seus artigos de “barro negro”. Fui na Casa Doña Rosa, onde essa técnica foi “redescoberta” há algumas décadas. Os primeiros exemplares de cerâmica negra foram descobertos na região por arqueólogos no Monte Albán, e Rosa desenvolveu o método pelo qual conseguia replicá-los. Tudo feito naturalmente. As peças são muito bonitas e resistentes. E o neto dela, Valente, que trabalha há 698 anos com cerâmica, faz uma demonstração de como preparar um vaso que humilha gente com pouca habilidade artística como eu...
Buenas, vou nessa e tentar ser um pouco mais rígido comigo para escrever com mais freqüência. Amanhã parto para San Cristóbal de las Casas. De lá vou a Chetumal. De Chetumal a Cancun. E de Cancun para a Ilha.
(.P.S. depois reviso o texto)

Beijos e abraços

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Ao som da maraca, do tambor do bambu...

...eu vou pra lha de Cuba, eu vou pra Ilha de Cuba! Não vou numa caravela, nem na Santa Maria, mas vou feliz depois de achar que não permitiriam meu regresso á terra de Fidel e da Revolução. Pois bem, se o visto de jornalista não saiu no Brasil, no México descolei o de turista. Agora é definir a data, comprar a passagem e ser feliz por lá, país que tanto venero. Quem acompanha a trajetória de preparação dessa viagem, sabe o quão importante é para mim passar por esse destino. E felizmente consegui. Mas enquanto a Ilha não se torna realidade...

...vou curtindo o México
Bem, começo pelo pastelão da luta-livre. Fui junto com uma americanada que apareceu aqui pelo albergue e queria muito ver os combates hilários. Aqui luta-livre é coisa séria até a página três. É uma verdadeira festa, com muito riso, gritos ensaiados da torcida - que xinga desde a mãe do lutador ate o próprio. E o enredo dos embates é basicamente o mesmo. Os marmanjos entram, começam a trocar provocações até que o juiz da início ao duelo. A cada noite de espetáculo são cinco lutas, dos principiantes aos campeões mundiais. E dá para perceber bem a diferença entre os experientes e os novatos, nos golpes ensaiados. Alguns divertidíssimos como o verdadeiro “amassa-saco”, em que dois lutadores seguram o adversário de pernas abertas e um terceiro voa das cordas do ringue e “acerta” os países baixos do oponente. É tudo orquestrado. As lutas terminam na terceira caída e “coincidentemente” sempre há um empate de 1 a 1 que leva ao decisivo round. Durante o combate vale lutar do lado de fora do ringue, marmanjo cair sobre a torcida, enfim, pastelão total. Mas vale o ingresso – que é bem barato – por tratar-se de uma verdadeira paixão nacional mexicana.
Buenas aproveitei esses dias para conhecer também o museu da revolução. No monumento à revolução, que é gigantesco e fica sobre o museu, estão os corpos de personalidades que tomaram parte no conflito, como Pancho Villa. O museu é bastante simples, mas um dos melhores que vi até agora pela qualidade das informações. Ricas, diretas e que permitem entender bem os motivos para que a luta começasse. E é impressionante ver – e dá um pouco de vergonha quando penso na nossa história – o número de vezes que os mexicanos se levantaram contra a exploração. Infelizmente, apesar dos pequenos êxitos, fica claro que, como em boa parte dos feitos históricos latino-americanos, a seqüência dos fatos normalmente traz traição à causa por quem ocupa o poder.
Na sexta, fui conferir o show do Kataklysm, no Hard Rock Café. Amigo Victor – para quem não sabe, é meu grande parceiro de shows de metal e também o único headbanger cearense que conheço -, valeu cada minuto. Os caras tocaram muito, estavam empolgadíssimos. Oi bom pra caramba, apesar da chuva fina que tomei na cabeça no percurso, combinada ao frio de quase zero graus que assolou o México na semana passada.
Também fui ao mercado de La Merced em busca dos benditos uevos de hormiga, mas não tive sucesso. Mas não tem problema, rolou um bom de um queijo oaxaca, que é tradicional aqui (e parece borracha), bem como um mole poblano de primeira categoria que continuo a devorar aqui no albergue quase que diariamente.
Na semana passada o albergue tava bem divertido, já que rolou um quarto latino. Eu, Haizea, uma espanhol – ou melhor, uma basca, já que ela tem asco de espanhóis -, Miguel, um mexicano e Jaime, um colombiano. Pessoal muito gente boa, bons bate-papos sobre política, literaura, música, etc. Creio que foi a melhor combinação no dormitório até agora. Mas, como tudo que é bom dura pouco, foram só quatro dias de convivência e cervejada.
O curso de espanhol vai bem. A turma cresceu de cinco para onze pessoas das quais nove são japoneses. Umas figuraças, super animados. E fiquei lisonjeado com o fato de quase todos terem me pedido para ficar uma semana mais ou aind amais tempo. Dizem que “la clase sin usted és aburrida”, Não entendo bem o motivo, já que falo o essencial, mas achei bacana demais. Hoje fomos todos ao cinema, ver El Che, que é uma baita filme (eles não gostaram). E amanhã vamos ver uma das japas trabalhar como Dj num boteco daqui. Isso vai ser histórico. Eu escutando música eletrônica...Mas vá lá, o que importa é a parceria.
No final de semana fui ao Bosque de Chapultepec outra vez epor casualidade encontrei Tomo e Eri, duas das japonesas que são minhas colegas e rumamos ao Museu de Arte Moderna. Foi divertido e valeu a pena ter movido o esqueleto para ver “Las dos Fridas”, de Frida Kahlo. Depois me convidaram pra jantar. Quem adivinhar que tipo de comida, ganha um doce (risos). Claro que japonesa. Matei a saudade do Guioza. Mas por outro lado se fortaleceu meu desejo, que está se tornando permanente, por uma feijoada e por um churrascão!
Beijos e abraços,
Gu