sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Gustavo link abá


Voltei do programa de índio. Nem foi tao indígena assim. Digamos que a propaganda é bem diferente da realidade em que vive a comunidade de Chicacnab, que foi a que visitei. Meu guia e anfitriao foi o Alfonso. O cara tem 21 anos de idade. Fez um curso de dois anos para ser guia e outro de dois anos para ser padeiro, profissoes que toca simultaneamente. Com ele moram o pai (que estava ausente, por estar trabalhando em Petén, outro estado), a mae, duas irmas, um irmao, a cunhada e a sobrinha.

Saímos daqui cedo. Fomos pegar um onibus de Coban para Carchá, cidade vizinha. Lá, esperamos por uma hora e meia até chegar o transporte que nos levaria a San Lucas, um minúsculo povoado, que é o mais próximo que existe de Chicacnab. Chegamos as 13h. Depois, foram 1h45 morro acima, num lodo só. Quando comentei que o atoleiro era grande, Alfonso me disse que eu nao tinha visto nada, pq é a melhor época do ano, a mais seca. A subida nao foi das mais dificeis. A casa dele fica bem no alto do morro. E feita de madeira, o piso é de terra. Boa parte dela está coberta com palhas. Mas há um pedaco que já tem teto de zinco. Dentro, há uma pequena divisao de madeira, que é o quarto de hospedes. Na sequencia, um quarto amplo, com algumas camas sem colchao. Dormem sobre umas palhas, umas esteiras parecidas com as que levamos para a praia. Ali estao tambem as roupas de todos, penduradas em um varal que corre de ponta a ponta. Por ultimo, vem a area mais frequentada da residencia, uma espécie de cozinha. No chao fica acesso, 24 horas, o fogo. É fumaca e mais fumaca. Todos ficam sentados ali, ao redor do calor, onde tambem é feita a comida. A oscilacao de temperatura é violenta. As 15h estava de manga curta e de havaianas. As 16h30, estava de jaqueta e de meias. Comem demasiadamente. Muito ovo, tortillas, tomate e arroz. Ontem rolou Tuyuyo, uma tortilla recheda com feijao. No cafe da manha, mais uma vez. nao to aguentando. Acho que o Greenpeace, em breve, vai proibir a dieta guatemalteca. se as ovelhas australianas sao culpadas pelo buraco na camada de ozonio, a Guatemala deve ser duplamente. Na cozinha tambem estao penduradas varias espigas de milho. É o estoque para o ano. As galinhas que criam ficam num constante entra e saí da casa, pedindo comida. tsc, tsc, tsc...mal sabem elas o futuro que as espera.

Alfonso é o único que fala espanhol na casa. Trabalha 12 horas pordia para produzir uma média de 600 paes. As irmas o ajudam e um vizinho (a casa dele fica a uns 500 metros de distancia e abriga a padaria) é sócio na empreitada. Os demais só se comunicam em keqchi, um idioma maia (aqui sempre é assim, o idioma maia - sao mais de 60 - predomina nas pequenas cidades). Assim, fica bem difícil a conversa e dependi muito do intérprete. Consegui aprender algumas palavrinhas. "Wamb´i" siginfica adeus. "Ani Lakaa´bá?" siginifica "como é seu nome?". "Twaj ilok il tz´il Quetzal" é "quero ver o pássaro Quetzal". "Twaj atink", "quero tomar banho". Aliás, nada de banho. depois de suar feito um porco, de atola rno barro, nem perto de um chuveiro. Ninguém toma banho, em razao do frio. Voltando a lingua, memorizei umas 20 palavras e expressoes. Mas a pronúncia é bastante complicada.

O dia-a-dia na casa é o seguinte: saem para trabalhar cedo, lá pelas 6h. A mae, Maria, colhe feijao durante o dia. Assim que regressa trata de selecioná-los e já inicia o preparo. O irmao e as irmas partem para a cidade, onde vendem os paes que Alfonso faz com a ajuda delas e trazem ingredientes, como banana, para fazer mais no dia seguinte. Lluvia, a cunhada, é quem passa o dia em casa, trata de cozinhar, de trabalhar no tear e de cuidar de Norma, a filha de apenas tres anos, que é um doce de criatura. Dá vontade de levar pra casa.

Todos os outros regressam por volta de 18h. É quando contabilizam os ganhos. Ficam fazendo contas e distribuindo o dinheiro. Estao economizando pq pretendem, no ano que vem, abrir uma loja para vender roupas. Lá pelas 20h, todos para a cama. Nao há energia elétrica. No outro dia, o ciclo recomeca.

Os passeios pela mata foram bacanas ,mas nada de especial. Nao tive sorte e por isso nada de ver um Quetzal, a ave símbolo do país. Voltei ontem. Na parte da noite. E to meio mal. Passei a noite abracado no vaso sanitario e com uma dor de cabeca infernal. Tenho quase certeza que é da água que tomei em Chicacnab, que é de um pequeno corrego. Foi fervida, mas tava muito suja. Por isso adiei minha viagem a Flores. Nao to em condicoes de pegar seis horas de estrada.

Un temporal de amor
Bem que se diz que o peixe morre pela boca. No furgao a caminho de Chicacnab comeca a tocar uma musica e penso: eu conheco esta voz. Ela continua e eu: eu conheco esta musica..."Y cuando llegues tú / Con la ropa mojada / Quiero ser la toalla / Que te cubra de amooooooorrrrr. Caralho, Leandro e Leonardo em espanhol. Ninguém merece.

beijos

2 comentários:

Oggh disse...

Cuidado com a água, rapaz! Na dúvida, só destilados!!!

Te cuida!

Gabriel disse...

não desista da ave... corta a barba e pega um fôlego a mais!
abraço!