quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Se a primeira impressão é a que fica, a cidade do México já me conquistou

Feliz Natal! Espero que as festas para todos tenham sido, ou melhor, estejam sendo, maravilhosas. Minha ceia natalina é que não foi das mais emocionantes. Dois sanduíches de presunto e queijo e água, devorados num canto da rodoviária da Cidade do México, às 3h da manhã, quando cheguei de Monterrey. Mas o rango tava bom! De sobremesa, bolachas recheadas. Hummmm....

Buenas, estou há menos de 24 horas na Cidade do México. Mas se o velho ditado comercial de que "a primeira impressão é a que fica" for verdadeiro, essa grande metrópole já tem um lugarzinho guardado entre meus lugares prediletos. Claro, tenho consciência de que isso pode mudar ao longo do tempo em que estarei por aqui, mas por enquanto, só alegria. O bairro em que estou certamente ajuda: Roma. O lugar é bonito, sossegado, com várias opções de cinema, livrarias, lojas de cds e botecos (que ainda tenho de desbravar). Estou num albergue bacaninha, mas amanhã me mudo para outro, aqui pertinho, que deverá ser aminha morada ao longo de um mês. L´atem lavanderia e a cozinha, para fazer o próprio rango, é legal. Mas, como diria Jack, vamos por parte.

Pinchazo del alemán
Estava eu caminhando pelas calles de Durango quado me deparei com o Restaurante dos Pampas. Servem comida típica tupiniquim, que não provei em razão do excesso de sal (no preço). Mais adiante encontrei o Café Brasil. Éstava fechado. Na casa que abriga o estabelecimento nasceu uma das maiores atrizes do cinema mexicano, Dolores del Rio. Ela participou, por exemplo, do filme Maria Candelária, vencedor do festival de Cannes na década de 1940. Bem, já que achei dois lugares com nomes comuns a qualquer cidade brasileira com mais de 10 mil habitantes, minha meta, agora, e achar o Açougue do Gaúcho e a Borracharia do Alemão. Aceito as traduções: Carniceria del Gaúcho y Pinchazo del Alemán.
Bobagens à parte, Durango é uma cidade bonita. O povo usa chapéu de cowboy mesmo, rola um clima "western". O povo é simpático, mas meio desconfiado. Não dá muita trela. Mas nada que comprometa. Acho que o lance de eu parecer americano, combinado à aind aindigesta guerra contra os yankes no século XIX não ajudam muito. Fiquei num hotel chamado Buenos Aires. Meio porcão, mas tudo bem, a parada era curta (tenho de aprender a não olhar debaixo da cama. Quem meda!). Claro que fui para a cidade cenográfica Villa del Oeste. É menor do que eu esperava, mas divertida. Está lá tudo o que se vê num clássico filme do John Wayne, o que inclui a ferraria, o banco, a forca no meio da praça, a funerária, a alfaiataria, a igrejinha e umas casitas más, além, é claro, de um tribo indígena com suas tendas. O ponto alto é o Saloon, onde são feitas encenações de péssima qualidade. Atores fraquinhos, piadas piores ainda. Só as mexicanas é que foram bem escolhidas (perdoem a cafajestagem). Não há muito mais para se fazer no velho oeste. É ver o espetáculo, circular pela cidadela e pegar o ônibus com destino à cidade. Como fui na última apresentação, voltei com os índios, vaqueiros e vedetes! risos

Uma das coisas que atraem os cineastas a Durango é o belo céu da região, que favorece à fotografia. Realmente, é um espetáculo. No dia seguinte, fui conhecer o Museu do Cinema. Esse pobre coitado, sim, tá esquecido. Não repuseram sequer legendas que caíram. Dá vontade de se oferecer para esrevê-las. De qualquer forma, tem umas filmadoras antigonas, umas moviolas e os cartazes dos longas rodados ali. Brabo foi que o horário de abertura era 10h da matina. Cheguei às 10h30 e o guarda tinha ido comprar Coca-Cola no bar. Voltou só às 11h...

Resolvi ir embora no final da tarde. E o que vei a seguir foi o mico da viagem até agora.

Cuatro Ciélagos
Aos interessados em vir ao México, anotem esse nome para lembrar. E se planejarem a vinda no inverno, anotem para lembrar de esquecê-lo. A pequenina cidade é conhecida pela suas pozas, que são piscinas que se formaram no meio do deserto. Uma espécie de lençóis maranhenses sem areia e com pedras no lugar delas. Li no Lonely Planet maravilhas e fiquei empolgado para mergulhar or ali,. Tem até uma meção, no guia, falando das águas sempre quentes de uma dessas panelas. O fato é o seguinte: saí de Durango com um calor canino e cheguei a Cuatro Ciélagos às 2h30 da manhã com temperatura abaixo de zero! Dormi na rodoviária o resto da noite (eu e um mendigo) e de manhã fui procurar hotel, que lá eram raros e, por isso mesmo, caros. Achei um bem legal, por preço aceitável e me hospedei. Perguntei pro cara da recepção sobre as pozas e a resposta foi de que só se eu fosse louco entraria na água. Pensei em encarar assim mesmo. mas aí o obstáculo foi outro: não havia nenhum transporte disponível para ir até lá. São mais de 20 km no deserto. Não tem táxi nessa época do ano e nem ônibus. Mais da metade dos restaurantes da cidade estavam de férias, assim como a prefeitura e também o serviço de apoio ao turista. Conclusão: dia totalmente perdido. Não vi a merda das pozas. Mas pelo menos dormi como não fazia há tempos. Tratei de comprar uma gorditas, que são mito faosas por aqui, e fui comê-las noo hotel. Gorditas são tortilhas recheadas com várias coisas, como guacamole e carne com chili. Enchi o panduio e descolei uma passagem para Monterrey, a terceira maior cidade do México. E assim cotinuei a jornada.

Monterrey
A cidade é grande, poluída, mas bela. O albergue muito legal e barato. E os museus, um espetáculo. No primeiro dia fui ao Museo del Noreste, que conta a história da região mexicana. Para minha felicidade era dia de visitas gratuitas. O lugar é fantástco, tanto pelo prédio moderno, como pela praça que o circunda e abriga outros dois museus. Os recursos interativos são de babar. Vieram até confiscar o chiclé que eu tava mascando e fotos são proibidas. A mostra temporária, muito boa, é sobre Bernardo Reyes, um importante político da reião no início do século XX. Um grande filho da puta que apoiava o Porfírio Dias, na verdade. Mas cada um com seus escrotos!

Na sequência, fui ao Museu de História Mexicana, que fica em frente. Ainda mais fascinante. Está rolando uma exposição temporária sobre Las Castas de La Nueva España, com várias coleções de pinturas que retratam a mescla de raças entre espanhóis, índios e negros. Essas coleções eram comuns à época e encomendadas por diferentes famílias. Era uma espécie de arte feita em larga escala, como os artesanatos de hoje. Legal é que deixam tranparecer a hierarquia social, os preconceitos (os negros, por exemplo, eram considerados "esquentados" e desordeiros e por isso normalmente aparecem fazendo gestos bruscos) e hábitos (fica clar, também, que as mulheres, em mutas casas, eram as provedoras e quem mandava, principalmente nos retratos de ídios, em que os homnes aparecem em funções pouco nobres e com caras submissas). Eu não tinha idéia da vasta nomencatura que existia para definir as misturas étincas. Ela está está bem traduzida nesse trecho que transcevo, creditado ao frei Francisco de Ajofrín (1763):

“De español e india nace mestiza; de español y mestiza nace castiza;
de español y castiza, española; de español y negra, mulato;
de español y mulata, morisco; de español y morisca, albina;
de español y albina, tornatrás; de español y torna atrás, tente en el aire;
de indio y negra, nace cambujo; de cambujo e india, lobo;
de lobo e india, albarazado; de albarazado y mestiza, barcino;
de barcino e india, zambaigo; de mestizo y castiza, chamizo;
de mestizo e india, coyote.
Los lobos, cambujos y coyotes es gente fiera y de raras costumbres.”

O segundo piso do Museu é um resgae de toda a história mexicana, muito bem feito e detalhado. Há vídeos, áudios e pontos interativos por toda a parte, como, por exemplo, um enorme calendário maia, que permite que vc vá marcando as datas com os símbolos que utilizavam os índios. As salas sobre cinema e literatura também são ótimas, assim como a sobre as ferrovias, com direito a uma locomotiva inteira e um vagão que abriga a mostra sobre o tema.

O museu do Palácio do Governo eu pulei. Já tava cansadão e com fome e fui pro centro comecial. comer tacos e burritos. Aliás, por toda a parte vc pode encontrá-los. São baratos. Um taco sai por pouco mais de R$ 1,50, e os burritos não fogem mito desse preço. Ainda tô me habituando à pimenta, que realmente se faz presente em todas as comidas. Dependendo do lugar, até o guacamole bota medo. A noite é que estava meio fraquinha, creio que por conta da anteéspera de Natal.

No outro dia, acordei cedo e fui pro Museu de Arte Contemporânea. Lindo também. No Marco, como é chamado, vi duas exposições. Sempre acho museus de arte contemporânea arriscados, principalmente se estiver em cartaz um exposição em que mais da metade das peças tiver como título "Sem título". Mas tive sorte. A primeira das mostras era de Maria Izquierdo, uma das primeiras pintoras famosas do México. Seus quadros vão de naturezas mortas ao surrealismo. O auto-retrato lembra muito os de Frida Kahlo. A outra exposição é a do inglês Antony Gormley. Linda e pra pensar na vida. E o melhor: com o livreto em mãos, dá para entender todo o processo criativo, o que é um alívio.

Dali fui até a rodoviária, comprar as passagens para cidade do México e rumei, na sequência, ao Parque de la Fundidora. O nome se deve justamente ao fato de ali ter funcionado um gigantesca casa de fundição. O lugar é muito legal, com os antigos prédios e chaminés preservados, e os primeiros transformados em Pinacoteca, casas culturais e na ótima Cinefotoeca. Neste último espaço está uma exposição de Pedro Meyer, um dos grandes fotografos mexicanos e um dos mais importantes da atualidade. As fotos são fortes e estão sendo exibidas, simultaneamente, em 60 países. Muitas delas do movimento sandinista, na Nicarágua, outras do terremoto que devastou boa parte da cidade do México em 1985, algumas sobre o Movimento Estudantil de 1968 no México, que resultou na morte de centenas de manifestantes pouco antes das Olimpíadas sediadas pelo país naquele ano, e várias de outros cantos do mundo, como EUA e Cuba.

E então, chegou a hora de dizer tchau e rumar para a Cidade do México. Não rolou confraternização natalina no ônibus. E cheguei aqui antes do previsto, o que me obrigou a mais uma noitada em banco de rodoviária para esperar o metrô abrir. Aliás, rodoviária é um dos lugares mais incríveis para se estar. Dá um baita documentário.

Vicky Cristina Barcelona
Bem, sobre o bairro de Roma, vou ter bastante tempo para escrever. Assim como sobre a cidade. Então, vou finalizar falando do filme do Woody Allen. Hoje tirei meu atraso de cinema e vi duas películas em sequência. O primeiro filme, O Menino do Pijama Listrado, passou na mostra de Sampa, em outubro, e havia perdido. Bom, mas nada demais. Já Vicky Cristina Barcelona é imperdível. O velho Woody é foda. Não há cidadão que não se identifique com as personagens que ele constrói. Eu me vi numa delas e quem me conhece e assistiu ao longa sabe quem é. O filme é bonito, o roteiro muito bom, enfim, imperdível (uma redundância em se tratando de Woody Allen).Me animou inclusive a escrever. A música não me sai da cabeça. Vou dormir pensando nela. E em como a vida passa depressa.

Beijos
Gu

2 comentários:

Unknown disse...

Gustavo!!!
Você está tão pertinho do Tejas, amigo, vem me visitar!!! Ou eu pego o carro e cruzo a fronteira pra te ver? Bem que eu queria...
Estou adorando suas aventuras. Sempre que tenho tempo seus posts - tudo bem que estou com várias lacunas na leitura, mas depois eu volto e releio!
Besos e buena suerte!
Carol

Erika. disse...

Migo, nascemos Vick, mas não precisamos morrer Vick, né? Que em 2009 a gente consiga ser um pouco mais Christina. Tô tentando começar.... Beijos cheios de saudades!