segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O curso e a casa de família

Hola,

hoje acordei cedinho pq o curso de espanho comecou. Vai das 8h às 12h, com um pequeno intervalo em que comemos umas frutas e proseamos entre professores e alunos. É um professor por aluno e atualmente sao quatro alunos. Uma das alunas mor ana Inglaterra e um casal que é do Alasca. Nao sabem quase nada de espanhol. Aí vai tudo no inglês com eles. Mas tudo bem.

A aula em si é aquela coisa chata. Estamos estudando as conjugacoes verbais. O mais legal foi a segunda metade, em que ficamos falando sobre a Guatemala. A minha professora dá aulas no ensino público guatemalteco. As queixas sao as mesmas que as feitas no Brasil, inclusive sobre a diferenca na qualidade do ensino nas diferentes regioes do país.

O legal é que ela me conta as historias que a avó dela passa adiante. É uma tradicao local, mesmo, a historia oral, o que acho interessante para caramba. Por exemplo, ha uma lenda que de 50 em 50 anos o lago Atitlas sobe de nivel expressivamente. E agora ha muita gente que contrui perto dele que esta com medo.

Falou, tambem, sobre as curandeiras que existem na regiao e como trataram de uma lesao em sua coluna. Diz ela que com muita dor, com um mes de massagens com ossos e bebidas com ervas, mas que esta completamente curada, o que foi atestado pelo medico "oficial". Disse que aqui a maior parte das pessoas prefere a medicina alternativa, a natural, a ir aos hospitais. Eh tradicao e com isso nao se brinca. No entanto, ressaltou alguns avancos que foram proporcionados pelo afastamento em relacao aos habitos ancestarias, como o fato de as mulheres agora frequentarem as escolas. No entanto, fez uma resalva: isso soh em San pedro la Laguna, uma cidade mais avancada que as outras, ja que nas utras comunidades que rodeiam o lago, os antigos habitos ainda prevalecem (como o das meninas casarem ateh os 15 anos).

Tambem relatou o quao dificil eh conseguir falar com as pessoas. Disse para eu nao estranhar muito isso, pq ha muito trauma do tempo da guerrilha, dos massacres, dos desaparecimentos. Disse que a gente tem vergonha e medo. Ha cidades cemiterio, segundo ela, em que os governistas levavam corpos e mais corpos para serem depositados. E nessas cidades, o silencio eh absoluto.

Reclamou, ainda, das perseguicoes. Disse que ontem a noite estavam na quadra de esportes da cidade, acompanhando o terneio de basquete local, quandoforam avisados de que o lider comunitario sofrera um atentado. Disse que eh uma coisa ciclica: quando alguem comeca a falar demais, falar as verdades sobre a pobreza e sobre a discriminacao dos maias, eh uma questao de tempo para aprecer morto. Mas que a associacao dos docentes eh muito organizada (tem 90 mil integrantes) e bastante combativa, tendo adotado como missao levar a verdade sobre a historia da Guatemala para sala de aula.

Buenas, o papo foi longo e nao cabe relata-lo aqui. Amanha vou pedir para gravar as conversas. Tambem devo ir andar de caiaque e trocar umas ideias com o Vicente, gerente da escola, que se ofereceu para passear pelos povoados. Mas ainda vou ver, pq parece que ha festa de rua em Pnajachel, do outro lado do Atitlán, e to com vontade de ir conferir.

Buenas, hoje fui para acasa da familia. Eh um pequeno mercado. O banheiro nao tem porta (eh uma cortina), o chuveiro eh frio e a privada nao tem agua (tem de pegar com um balde num tanque e jogar nela). Cheguei na hora do almoco: moela cozida com muito molho (uma moela para cada um, diga-se), arroz e pao. E Tang. O tempero eh otimo. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas to com uma saudade de uma alface!!! A dona da casa chama-se Rosa tambem. Seu marido é o Rafael. Eles tem tres filhos, mas apenas uma que mora aqui, Helena. É casada como Fredy, falastrao que soh. Perguntou tudo e mais um pouco sobre o Brasil em meia hora. O engracado eh que aqui ninguem sabe que falamos portugues. Todo mundo acha que o ingles eh a lingua natal dos brasileiros. Ai tem os netos: mais um Fredy (14 anos), a Rosa (12) e o Nic (3 anos). Nic vem de Benedicto. Tambem pouco sabe sobre o que acontece no mundo. Me perguntou o que me parecia o fato de Bush sair da presidencia. Eu disse que "muy bueno, Bush es un estúpido". Ele riu. E aí emendou: "quem é que foi eleito? É um negro, nao é?". Queria saber se nosso dinheiro vale mais que o deles. E disse que acha que deveriam cobrar mais dos gringos que vem para ca. Eu concordei. Vcs tinham de ver o susto que tomaram quando eu disse que tenho 30 anos e nenhum filho. Nao gostaram muito da ideia (risos). Disseram que eh um direito da mulher ter os filhos. Alias, o Freduy ta indo pro quarto...O ruimn é que eles falam mais Tzu'tujil, que é o dialeto maia do que espanhol.

Buenas, por enquanto é isso. hasta luego.
Gustavo

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