quinta-feira, 27 de novembro de 2008

o que quieres celeste, que lo custe

buenas,

aqui estoy, una vez mas. Son mis ultimos dias en San Pedro. Sabado voy a ir a Panajachel, una cuidad muy cerca de aqui y despues sigo a las ciudades de Santa Cruz Quiche y Nebaj.
Pois eh, esta chegando ao fim a segunda semana. Confesso que ta na hora de circular.

Antes, eh claro, vou ir a igreja kuakuakuakua. Eh hoje o grande dia. Duas horas de culto. Mas to curioso para ver como sao as pregacoes. A familia ficou bem satisfeita que aceitei participar. Ateh me ensinaram umas palavrinas no idioma maia, mas eh dificil pra caramba para pronuncia-las.

Buenas, ontem sairam no jornal alguma estatisticas sobre as condicoes de ensino na Guatemala. Um dos dados revela que 61% da populacao eh analfabeta. Desse total, cerca de 95% sao indios. O tempo medio de escolaridade da populacao eh de 1,3 anos. As meninas indias sao as mais excluidas das escolas. Enfim, eh de chorar e torna bastante compreensiveis algumas duvidas que eles tem.

Ontem estavamos conversando eu, a dona Rosa e a filha dela, Helena, depois do jantar. Me perguntaram sobre onde ficava o Brasil - acho que ja escrevi que pensavam que eu falasse soh ingles. Imaginavam que fossemos vizinhos dos Estados Unidos. Tambem nao entra na cabeca deles que no Brasil ha miseria. Dizem que todos os brasileiros que conhecem sao brancos como os europeus. Expliquei que isso era uma triste heranca de nossa historia. Contei sobre os escravos, sobre o fato de a grande parte da populacao brasileira ser mestica ou negra e que estes sao so principalmente desfavorecidos. Nao acredito que teham entendido bem a relacao de uma coisa com a outra e tbem nao acho que tenham acreditado muito. Mas tudo bem.

Os guatemaltecos, assim como nos, brasileiros, nao sao chegados na leitura (tambem, sem saber ler, fica dificil). Volta e meia to com um livro na mao, pela casa. Hoje disseram que ouviram falar que ler eh muito importante. Passam todos os momentos em que nao estao comendo ou no culto diante da televisao. Deve ser por isso que comprei hoje o Cem anos de solidao, em espanol, pelo equivalente a RS 7,00. Achei numa paplaria, que me indicaram como livraria. Os livros eram praticamente soh didaticos. avia dois diferentes. Um do Garcia Marquez. O outro um conto indigena, que acabei comprando para conhecer.

Na escola de espanol os professores ja tem um nivel melhor. Mas aparentemente a televisao eh o caminho tbem, apesar da critica que fazem as orientacoes politicas dos canais guatemaltecos. Hoje perguntei onde se compra jornal, pq nao consigo encontrar. Disseram que os poucos que chegam sao distribuidos pelos jornaleiros a pessoas que costumeiramente compram. Entao, nao se encontra mesmo. Alguns cafes os tem e recorro a eles.

Com o Vicente terminei a conversa que comecamos na terca. Na ocasiao ele me perguntou o que eu pensava de Chavez, Morales e Lula. Quem me conhece, sabe a resposta. Hoje inverti a pergunta. Me surpreendi. Vicente disse que achava bom que acontecessem reformas sociais, mas que nao deviam mexer com as empresas, pq elas trazem riquezas pro povo. Expliquei que o governo Chavez, por exemplo, tem em sua politica o incentivo aos pequenos e medios e como prioridade estatizar setores estrategicos. Ficou mais satisfeito. No entanto, reforcou que gostaria de ver uma fusao entre aspectos socialistas e capitalistas, e que fosse possivel surgir uma sociedade com o melhor dos dois. Fiquei meio decepcionado quando ele iniciou um discurso de que a competicao eh boa, pq ha muito spobres acomodados. Eu disse que conhecia essa ideia, mas que nao poderia concordar com ele, pq se o fizesse estaria acreditando em meritocracia, que nao funciona em sociedades nas quais as pessoas nascem em condicoes desguais. Vicente disse que San Pedro cresceu e tem melhores condicoes que as cidadezinhas vizinhas, pq foram capitalistas, individualistas. Mas que quando alguem precisa todos ajudam. Acredita que eh assim que as coisas deveriam ser. Discordo, mas respeito. Enfim, ficamos nessa papo, que foi bastante agradavel. Ele lamentou o fato de, ao contrario da Venezuela, a Guatemala nao ter petroleo ou outro produto demandado globalmente, para poder negociar usando isso.

Na aula estavamos conversando, eu e minha professora, sobre as privatizacoes. Me contou que, apesar da pouca instrucao, ha dois anos o povo daqui impediu uma empresa americana de escavar minas. Para isso, queriam deslocar casas e plantacoes de familias que vivem aqui ha seculos. Nao aceitaram, partiram para o confronto e venceram. Outra disputa recente foi pelo lago Atitlan. O governo chegou a cogitar privatiza-lo para a exploracao tursistica. Ou seja, alguns gringos iam ter direito de cobrar de quem quisesse vir para ca e aproveitar o lugar. Mais uma vez conseguiram barrar. Felizmente, sem sangue. Contei sobre o caso da agua privatizada na Bolivia. Nao conheciam. Ficaram escandalizados. E tambem felizes pela vitoria do povo de Cochabamba.

Realmente o sonho bolivariano ta longe. Por enquanto, hermanos apenas no mapa. E na miseria. Mas ha de chegar o nosso dia.

hasta luego,
Gustavo

Um comentário:

Erika. disse...

Companheiro Gú, se conseguir chegar ao final de "Cem anos de Solidão" em espanhol, sem confundir as Úrsulas, massagearei seus pés, diariamente, durante um ano e meio, já que se tornará meu ídolo! Beijos saudosos!